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domingo, 2 de setembro de 2012

1054 O CISMA ENTRE O ORIENTE E OCIDENTE


1054

O cisma entre Oriente e Ocidente

As igrejas do Oriente e do Ocidente separaram-se no transcorrer de vários anos. O que um dia fora uma única igreja, paulatinamente se dividiu em duas identidades distintas.
Diferenças quanto a detalhes insignificantes ampliaram o conflito. O Oriente usava o grego, ao passo que o Ocidente utilizava o latim, graças à Vulgata e aos teólogos ocidentais que escreveram nessa língua. As formas de culto eram diferentes: o pão usado na comunhão, assim como a data para a Quaresma e a maneira pela qual a missa deveria ser celebrada eram também distintas. No Oriente, o clero podia se casar e usava barba. Os sacerdotes ocidentais não podiam se casar e apresentavam o rosto completamente barbeado.
As teologías eram diferentes. O Oriente se sentia desconfortável com a doutrina ocidental do purgatório. O Ocidente usava a palavra latina filíoque "e do Filho" no Credo niceno, depois de que a cláusula sobre o Espírito Santo estabeleceu que o Espírito "procede do Pai". Para o Oriente, essa adição era heresia.
Diferenças que já existiam havia séculos explodiram devido a dois homens de temperamento obstinado. Em 1043, Miguel Cerulário tornou-se patriarca de Constantinopla. Em 1049, Leão IX tornou-se papa. Leão queria que Miguel — e, por meio dele, a igreja oriental — se submetesse a Roma. O papa enviou representantes a Constantinopla, mas Miguel se recusou a encontrar-se com eles. Desse modo, os representantes excomungaram Miguel em nome do papa. O patriarca respondeu fazendo o mesmo com os representantes do papa, excomungando-os.
Por meio de declarações recíprocas de que o outro não era verdadeiro cristão, os dois bispos criaram um cisma. Entretanto, não foram só eles que provocaram essa separação. As partes conflitantes tinham uma história de diferenças, que jazia na base desse desentendimento. O cisma foi o ato final que reconheceu essas distinções.
Como dizia o Credo, os dois lados acreditavam "na igreja una, santa, católica e apostólica". Em 1089, o papa Urbano tentou fechar a ferida revogando a excomunhão do patriarca. Ele também promoveu a primeira Cruzada como meio de reunificar o Oriente e Ocidente, mas isso não deu certo.
Os séculos posteriores assistiram a tentativas de reunir as igrejas, mas nenhuma delas foi bem-sucedida. A curta "reunião" de 1204 aumentou a hostilidade. Em 1453, quando os turcos muçulmanos tomaram Constantinopla, alguns cristãos orientais afirmaram que preferiam os muçulmanos aos católicos. O cristianismo unido parecia impossível.
Embora a diferença entre as duas igrejas possa parecer algo que não se relaciona totalmente com o que é essencial, no coração da disputa estava a questão do poder. Em uma época que via a autoridade dos bispos como chave para a estabilidade da igreja, não poderia haver duas pessoas reivindicando a mesma autoridade. Por não chegarem a um acordo, o Oriente e o Ocidente começaram a trilhar caminhos separados.

988 CONVERSÃO DE VLADIMIR, PRÍNCIPE DA RÚSSIA


988

Conversão de Vladimir, príncipe da Rússia

A conversão de um governante pagão, amante do divertimento, efetivamente levou o cristianismo à Rússia. Embora o cristianismo já tivesse alcançado a Rússia na primeira parte do século X, não foi aceito de maneira geral. Em 957, Olga, a princesa viúva de Kiev, foi batizada. Ela pediu a Oto I o rei germânico, que enviasse missionários a seu país, mas eles provavelmente tiveram pouco sucesso, pois a religião paga prevaleceu.
Vladimir, neto de Olga, estava entre aqueles pagaos. Ele construiu diversos templos, atraindo fama para si mesmo em função de sua crueldade e de sua falta de lealdade. Ele tinha oitocentas concubinas e cinco esposas e, quando não estava lutando em alguma guerra, caçava e festejava. Ninguém o escolheiia como o homem que levaria o cristianismo ao seu povo.
Como a maioria dos governantes, Vladimir queria manter seu povo alegre. Ele percebeu que poderia fazer isso unificando-os pela religião. Desse modo, conta-se que enviou diversos homens para examinar as principais religiões. Com suas regras de alimentação restritivas, nem o islã nem o judaísmo agradaram ao príncipe, de modo que ele teve de escolher entre o cristianismo romano e a igreja do Oriente.
Depois de comparecer a um culto na Igreja da Santa Verdade, em Cons-tantinopla, os homens de Vladimir apresentaram o seguinte relato: "Não sabíamos se estávamos no céu ou na terra, pois certamente não existe tamanho esplendor ou beleza em qualquer lugar aqui na terra. Não somos capazes de descrever o que vimos. Sabemos apenas que Deus habita entre aqueles homens e que seu culto ultrapassa em muito a adoração de todos os outros lugares. É impossível esquecer aquela beleza".
De acordo com a história, devido a essa beleza, Vladimir optou pela ortodoxia. É verdade que essa era a religião da nação vizinha, mais poderosa, rica e civilizada: o Império Bizantino. Quando a irmã do imperador bizantino, Basilio, foi-lhe oferecida em casamento, Vladimir aceitou, o que ajudou ainda mais a consolidar sua posição junto ao vizinho.
Em 988, Vladimir foi batizado e, um ano depois, casou-se com Ana, mas nenhuma das duas atitudes foi uma mostra de que ele estava se submetendo ao Império Bizantino.
A escolha de Vladimir deixa claro que a igreja russa se concentrava no culto de adoração. A ortodoxia oriental sempre teve um apelo estético. O nome da religião escolhida pelo príncipe, pravoslavie, significava "verdadeira adoração" ou "a glória apropriada". Para a mente russa, o cristianismo significa liturgia.
Depois do batismo de Vladimir, sem muitas dificuldades, o povo colocou de lado as velhas religiões. Embora a Rússia não tenha se tornado uma nação cristã da noite para o dia, as coisas começaram a mudar. Em um primeiro momento, as conversões em massa não aconteceram, mas, com a ajuda dos monges — sempre uma força de primeira grandeza na ortodoxia oriental —, a nova religião começou a fazer com que sua influência fosse sentida.
Graças a Metódio e Cirilo, a Rússia tinha uma liturgia cristã em sua própria língua (o idioma eslavônico). As pessoas podiam participar e entender maravilhosa liturgia nas belíssimas igrejas construídas por Vladimir e seus sucessores.
A conversão de Vladimir claramente influenciou seu estilo de vida. Ao se casar com Ana, deixou as outras cinco esposas. Destruiu também os ídolos, protegeu os oprimidos, criou escolas e igrejas e viveu em paz com as nações vizinhas. Em seu leito de morte, doou todas as suas posses aos pobres. A igreja grega terminou por canonizá-lo.

909 UM MOSTEIRO É ESTABELECIDO EM CLUNY


909

Um mosteiro é estabelecido em Cluny

Nos séculos IX e X, a igreja estava doente. As lutas políticas causaram várias divisões na Europa. Os líderes da igreja buscavam poder e terras, praticavam violência e engano, assim como favoreciam o comportamento libertino. Em nada diferiam dos déspotas seculares.
Guilherme (William), o Pio, duque de Aquitânia, fundou um mosteiro em Cluny, que seria uma sociedade independente, livre das lutas de poder do império, sob a proteção do papa. O mosteiro seguiria a Regra estabelecida por Bento de Núrsia nos anos de 500: pobreza, castidade e obediência. A Regra foi bem recebida. Expoentes como Gregorio Magno e Carlos Magno promoveram essa idéia e ela se espalhou rapidamente por todo o império no século IX. Ela, porém, nunca conseguiu criar raízes, a não ser em Cluny.
Uma série de líderes capacitados fez com que Cluny funcionasse adequadamente: Berno, Odo, Majólo, Odilo, Hugo. Sob a orientação desses homens, novos mosteiros surgiram na França, Itália e Alemanha, os quais eram considerados "filhos" de Cluny. Alguns mosteiros já existentes procuraram a ajuda de Cluny. Em uma era feudal, Cluny se tornou o centro de um feudo espiritual. Esse mosteiro acumulava um poder muito além de sua idéia original. Porém, o tempo era adequado para um movimento de reforma, e Cluny carregava essa bandeira. Aquele foi o lugar em que se ergueu a maior edificação do cristianismo ocidental até a construção da Basílica de São Pedro, em Roma. Por volta do ano 1110, Cluny liderava cerca de dois mil mosteiros.
O movimento monástico teve e-feito reformador sobre a igreja. Os monges exemplificavam e promoviam o comportamento cristão. O sacerdócio foi melhorado à medida que monges cluniacenses se tornaram bispos e até mesmo papas. Cluny se colocou terminantemente contra a simonía — a compra de ofícios sarce-dotais — e o nicolaísmo — o ato de os sacerdotes tomarem para si concubinas e esposas.
Cluny, no entanto, também conseguiu aparar uma série de arestas da sociedade secular. A classe dos cavaleiros começou a desenvolver a bravura cristã. A promoção por parte de Cluny de uma "Trégua Divina" — que afirmava que era ilegal guerrear da noite de quinta-feira até a manhã de segunda-feira — de algum modo limitava as contendas mesquinhas entre os nobres, embora o édito, aparentemente, não se aplicasse às batalhas contra os infiéis. Uma vez que o papa Urbano π fora prior em Cluny, a influência desse mosteiro pode ter sido responsável, de alguma maneira, pelas primeiras Cruzadas.
O poder de Cluny alcançou seu ápice sob o abade Hugo (1049-1109). Quando esteve sob a direção de Pedro, o Venerável (que serviu ali de 1122 a 1156), as coisas começaram a declinar. O poder pode ter levado Cluny à direção oposta da simplicidade de Bento. A ordem cisterciense, de Bernardo, mais tarde renovaria a força espiritual da igreja.

CIRILO E METÓDIO EVANGELIZAM OS ESLAVOS


863

Cirilo e Metódio evangelizam os Eslavos



Séculos antes de Michelangelo, ou das aulas ilustradas no quadro-ne-gro, um missionário com dons artísticos pintou em uma parede um quadro do Juízo Final e ganhou o rei para Cristo.
A história nos conta que o artista era Metódio, que também era monge e missionário. O monarca era o rei Boris da Bulgária. Metódio, com seu irmão Cirilo, tiveram uma carreira digna de nota. Entre suas façanhas, eles levaram a fé cristã aos eslavos e, durante o processo, fizeram muito para transformar e preservar a cultura daquele povo. A igreja que mais tarde produziu Hus, Comênio e muitos seguidores que foram atraídos pela revolução espiritual de Zinzendorf, começou com esses dois irmãos gregos da cidade de Tessalônica.
Os dois eram clérigos dedicados. Metódio, o mais velho, foi abade de um mosteiro grego. Cirilo (também conhecido como Constantino), professor de filosofia em Constantinopla, já estivera em missão aos árabes. Em 860, eles uniram forças para evangelizar a tribo cazar, a nordeste do mar Negro.
As tensões entre o Oriente e Ocidente já eram fortes quando Roma disputava com Constantinopla o controle religioso e político dos territórios fronteiriços. Quando Ratislau, governador do grande Estado morá-vio (um desses territórios longínquos) ficou preocupado com a intromissão dos francos e dos germanos sobre o povo eslavo, ele se voltou para o Oriente. Apelou para o imperador de Constantinopla, Miguel m, pedindo que enviasse ajuda — e missionários. Foi assim que o chamado alcançou Cirilo e Metódio.
Chegando em 863, os irmãos rapidamente aprenderam a língua nativa e começaram a traduzir as Escrituras e a liturgia da igreja para o idioma eslavônico. Cirilo inventou um novo alfabeto baseado nas letras gregas, que se tornou a base para o alfabeto russo. (O "cirílico" é usado ainda atualmente por alguns povos).
Séculos antes de Wycliffe, Hus ou Lutero, a idéia de um culto de adoração celebrado em outra língua que não fosse o latim ou o grego chocava muitas pessoas. O arcebispo alemão de Salzburgo criou enorme rebuliço, provavelmente motivado mais pela política que pela piedade. A igreja romana não podia ficar passiva enquanto o território morávio, vizinho às suas propriedades, estava sendo orientalizado. Cirilo e Metódio foram para Roma em 868 a fim de defender sua posição da adoração autóctone. O papa Adriano II concordou com Cirilo e Metódio, autorizando a liturgia eslava. Os dois se tornaram monges romanos. Cirilo morreu no ano seguinte, mas Metódio retornou à Morávia como bispo. Embora fosse um emissário oficial do papa, os clérigos germanos o prenderam e o mantiveram na cadeia por três anos. O papa seguinte, João vm, interveio a seu favor e ratificou a independência da igreja eslava. Metódio, no entanto, continuou a enfrentar a oposição dos clérigos germânicos até sua morte em 885.
Pouco depois, a liturgia latina substituiu a eslava, e a igreja naquela área declinou. Porém, uma forte corrente libertária da fé cristã tinha se espalhado. Apesar de seus problemas, Cirilo e Metódio estabeleceram uma tradição cristã na Morávia e nos países vizinhos que alimentou e espalhou a fé por todo o mundo.

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