432
Patrício é enviado como missionário à Irlanda
Um ex-escravo que nem mesmo nascera
na Irlanda se tornaria a mais eficiente testemunha cristã naquele país.
Patrício, filho de pais cristãos, nasceu na Bretanha romana por volta do ano
390. Embora nos primeiros anos esse menino não levasse fé tão a sério, começou
a orar com fervor aos dezesseis anos, quando foi preso, escravizado e enviado
para trabalhar como guardador de porcos em uma fazenda no norte da Irlanda.
Para fugir de sua escravidão, Patrício viajou cerca de 320 quilômetros a
pé rumo à costa. Ali, o capitão de um navio que transportava cachorros de caça
concordou em levá-lo como tratador. Ele viajou para a França e, de lá, para um
mosteiro no Mediterrâneo.
Quando voltou para sua terra natal,
Patrício sonhou com as crianças irlandesas implorando para que ele levasse a elas
o evangelho. "Imploramos que você venha e caminhe entre nós uma vez
mais." Como achava que não tinha a compreensão adequada da fé, Patrício
voltou para a França a fim de estudar em um mosteiro. Por volta do ano 432, ele
voltou à Irlanda.
Poucos anos antes, o monge britânico
Paládio tentara converter os irlandeses, mas obtivera pouco sucesso. Os anos de
escravidão de Patrício entre os irlandeses, aparentemente, o prepararam para
ser um homem de coragem que compreendia aquele povo e sabia como pregar para eles.
A lenda obscurece muitos dados da
vida de Patrício, mas a história de muitas vilas atesta seu ministério ali.
Sabemos que o missionário converteu a maioria dos irlandeses ao cristianismo,
estabelecendo cerca de 300 igrejas e batizando cerca de 120 mil pessoas. Embora
Patrício enfrentasse problemas com alguns chefes de tribos hostis e com os
druidas — os defensores do velho paganismo — "o povo comum o ouvia com
alegria". Não houve um mártir sequer no processo de conversão dos membros
daquelas tribos contenciosas.
Usando a natureza, que já haviam
adorado no passado, Patrício descreveu a Trindade comparando-a a um trevo. A
compreensão dos irlandeses de que Patrício agia por Deus quando extirpou a
falsa religião e estabeleceu a verdade entre o povo pode ser vista na lenda que
diz que ele expulsou as cobras da Irlanda.
Depois de 30 anos de ministério
altruísta, Patrício morreu por volta do ano 460. Ele nos deixou poucas coisas
escritas, dentre as quais podemos destacar o notável hino I bind unto myself today [Hoje constrangido], conhecido como
"Brasão de Patrício".
Muitos anos depois, os missionários
da igreja Ocidental chegaram à Irlanda e descobriram uma fé viva naquele lugar.
Os sacerdotes e monges irlandeses eram estudiosos e missionários notáveis, e a
igreja causara profundo efeito sobre as pessoas comuns. O clero vivia de
maneira simples e devota, muitas vezes em circunstâncias difíceis. Embora seus
mosteiros fossem despretensiosos, simples estruturas de pedra, o aprendizado e
a arte (por exemplo, o extraordinário Livro de Kells) mostravam a
piedade extremamente viva dos monges. O fato é que esse estilo de vida piedoso
alcançou o restante da Europa à medida que levaram a Palavra para fora de seu
país.
A igreja da Irlanda se desenvolveu à
parte do sistema hierárquico de Roma, pois Patrício evangelizou a nação sem se
basear na igreja oficial. A igreja irlandesa foi organizada ao redor de
mosteiros, o que refletia o sistema tribal da nação. Sem o desejo de
estabelecer uma burocracia eclesiástica, os abades irlandeses encorajaram seus
monges a levar adiante o "verdadeiro negócio" da igreja: pregar,
estudar e ministrar aos pobres.
A Irlanda só se tornou católica por
volta do ano 1100, quando o papa deu a Henrique II, rei da Inglaterra, a
soberania sobre a Irlanda. Em sinal de admiração pela maneira como Patrício
trabalhara na conversão dos irlandeses, a Igreja Católica