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Antão começa sua vida de eremita
Um dos principais fundadores das
comunidades monásticas não tinha em mente a idéia de fundar coisa alguma. Ele
estava simplesmente preocupado com a própria condição espiritual e passou a
maior parte de sua vida sozinho.
Antão [ou Antônio] nasceu no Egito, provavelmente por
volta do ano 250, em uma família de pais abastados que morreram quando contava
cerca de vinte anos, deixando para ele toda sua herança. As palavras de Jesus
ao jovem rico — "Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o
dinheiro aos pobres" — mudaram a vida do jovem Antão. A mensagem parecia
ter sido direcionada a ele, uma vez que a entendeu literalmente. Doou suas
terras aos vizinhos, vendeu suas outras propriedades e repartiu o dinheiro
entre os pobres. Colocou-se sob os cuidados de um cristão idoso que lhe ensinou
as alegrias da autonegação. Antão optou
por comer uma única refeição por dia,
composta de pão e água, e passou a dormir no chão.
Com a conversão do imperador Constantino em 312, a situação da igreja
mudou drasticamente. Os cristãos saíram da posição de minoria perseguida e
tornaram-se membros de uma religião respeitável que desfrutava apoio oficial.
Contudo, à medida que grandes multidões começaram a entrar na igreja, ficou
mais difícil distinguir entre os que tinham compromisso verdadeiro com Cristo e
os que queriam apenas tomar parte da religião popular. A fé se transformou em
uma coisa fácil e a sinceridade foi prejudicada.
Cristãos zelosos dessa época, com freqüência, optavam
por lutar contra o comprometimento de sua fé afastando-se do mundo. Antão
buscou fazer isso e foi viver em uma caverna. De acordo com Atanásio, seu
biógrafo, durante doze anos Antão foi cercado por demônios que assumiam formas
de vários animais estranhos e que, em alguns momentos, o atacavam, e, em
determinada ocasião, quase o mataram. Eles estavam tentando trazer Antão de
volta ao mundo dos prazeres sensuais, mas Antão sempre se levantava de maneira
triunfante.
Para se afastar ainda mais do
mundo, Antão se mudou
para um forte abandonado, onde viveu vinte anos sem ver rosto humano. Sua
comida lhe era jogada por cima do muro. As pessoas ouviam sobre sua
impressionante autonegação e suas batalhas com os demônios. Alguns admiradores
ergueram casas rudes próximas ao forte, e, de modo relutante, ele se tornou
conselheiro espiritual delas, dando-lhes orientação sobre jejum, oração e obras
de caridade. Antão certamente se tornou um modelo de autonegação.
O eremita não conseguiu se desligar
totalmente do mundo. Em 311, Maximino, um dos últimos imperadores pagaos,
estava perseguindo os cristãos, o que fez com que Antão deixasse sua casa,
disposto até mesmo a morrer por sua fé. Em vez disso, ele ministrou aos
cristãos que foram condenados a trabalhar nas minas imperiais. Essa experiência
o convenceu de que viver a vida cristã poderia ser algo tão santo quanto morrer
por ela. Mais uma vez, em 350, ele saiu de casa para defender a ortodoxia
contra a heresia ariana, que não fora extinta pelo Concilio de Nicéia (325).
Muitas pessoas, incluindo o imperador Constantino, buscavam o conselho
espiritual do eremita.
Antão morreu com 105 anos,
aparentemente desfrutando vigor físico e mental. Ele insistiu para que fosse
enterrado secretamente de modo que nenhum culto se desenvolvesse ao redor de
sua sepultura.
Apesar desse cuidado, porém, um culto surgiu.
Atanásio, o influente teólogo que teve papel muito importante no Concilio de
Nicéia, escreveu uma obra muito popular chamada Vida de Antão, na qual
retratava-o como o monge ideal, que podia realizar milagres e discernir entre
espíritos bons e maus. Não demorou muito para que a idéia de um verdadeiro
guerreiro espiritual que se tornou monge e negou a si mesmo tomasse vulto
dentro da igreja.
A prática das comunidades de monges que viviam juntos
começou com Pacômio, um jovem companheiro de Antão. Como o austero e
individualista Antão, a maioria de seus seguidores também foi eremita. Seja
como for, Antão comunicou a idéia de que pessoa verdadeiramente religiosa se
afasta do mundo, abstendo-se do casamento, da família e dos prazeres mundanos.
Essa idéia só foi desafiada
seriamente na época da Reforma.
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