sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ANO 270 ANTÃO COMEÇA SUA VIDA DE EREMITA


270

Antão começa sua vida de eremita



Um dos principais fundadores das comunidades monásticas não tinha em mente a idéia de fundar coisa alguma. Ele estava simplesmente preocupado com a própria condição espiritual e passou a maior parte de sua vida sozinho.
Antão [ou Antônio] nasceu no Egito, provavelmente por volta do ano 250, em uma família de pais abastados que morreram quando contava cerca de vinte anos, deixando para ele toda sua herança. As palavras de Jesus ao jovem rico — "Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres" — mudaram a vida do jovem Antão. A mensagem parecia ter sido direcionada a ele, uma vez que a entendeu literalmente. Doou suas terras aos vizinhos, vendeu suas outras propriedades e repartiu o dinheiro entre os pobres. Colocou-se sob os cuidados de um cristão idoso que lhe ensinou as alegrias da autonegação. Antão optou por comer uma única refeição por dia, composta de pão e água, e passou a dormir no chão.
Com a conversão do imperador Constantino em 312, a situação da igreja mudou drasticamente. Os cristãos saíram da posição de minoria perseguida e tornaram-se membros de uma religião respeitável que desfrutava apoio oficial. Contudo, à medida que grandes multidões começaram a entrar na igreja, ficou mais difícil distinguir entre os que tinham compromisso verdadeiro com Cristo e os que queriam apenas tomar parte da religião popular. A fé se transformou em uma coisa fácil e a sinceridade foi prejudicada.
Cristãos zelosos dessa época, com freqüência, optavam por lutar contra o comprometimento de sua fé afastando-se do mundo. Antão buscou fazer isso e foi viver em uma caverna. De acordo com Atanásio, seu biógrafo, durante doze anos Antão foi cercado por demônios que assumiam formas de vários animais estranhos e que, em alguns momentos, o atacavam, e, em determinada ocasião, quase o mataram. Eles estavam tentando trazer Antão de volta ao mundo dos prazeres sensuais, mas Antão sempre se levantava de maneira triunfante.
Para se afastar ainda mais do mundo, Antão se mudou para um forte abandonado, onde viveu vinte anos sem ver rosto humano. Sua comida lhe era jogada por cima do muro. As pessoas ouviam sobre sua impressionante autonegação e suas batalhas com os demônios. Alguns admiradores ergueram casas rudes próximas ao forte, e, de modo relutante, ele se tornou conselheiro espiritual delas, dando-lhes orientação sobre jejum, oração e obras de caridade. Antão certamente se tornou um modelo de autonegação.
O eremita não conseguiu se desligar totalmente do mundo. Em 311, Maximino, um dos últimos imperadores pagaos, estava perseguindo os cristãos, o que fez com que Antão deixasse sua casa, disposto até mesmo a morrer por sua fé. Em vez disso, ele ministrou aos cristãos que foram condenados a trabalhar nas minas imperiais. Essa experiência o convenceu de que viver a vida cristã poderia ser algo tão santo quanto morrer por ela. Mais uma vez, em 350, ele saiu de casa para defender a ortodoxia contra a heresia ariana, que não fora extinta pelo Concilio de Nicéia (325). Muitas pessoas, incluindo o imperador Constantino, buscavam o conselho espiritual do eremita.
Antão morreu com 105 anos, aparentemente desfrutando vigor físico e mental. Ele insistiu para que fosse enterrado secretamente de modo que nenhum culto se desenvolvesse ao redor de sua sepultura.
Apesar desse cuidado, porém, um culto surgiu. Atanásio, o influente teólogo que teve papel muito importante no Concilio de Nicéia, escreveu uma obra muito popular chamada Vida de Antão, na qual retratava-o como o monge ideal, que podia realizar milagres e discernir entre espíritos bons e maus. Não demorou muito para que a idéia de um verdadeiro guerreiro espiritual que se tornou monge e negou a si mesmo tomasse vulto dentro da igreja.
A prática das comunidades de monges que viviam juntos começou com Pacômio, um jovem companheiro de Antão. Como o austero e individualista Antão, a maioria de seus seguidores também foi eremita. Seja como for, Antão comunicou a idéia de que pessoa verdadeiramente religiosa se afasta do mundo, abstendo-se do casamento, da família e dos prazeres mundanos.
Essa idéia só foi desafiada seriamente na época da Reforma.

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