I
O Catolicismo Romano
Até
há bem pouco tempo, os melhores livros escritos sobre seitas e heresias não
incluíam a Igreja Católica Romana no seu esquema de estudos, talvez devido ao
fato de grande parte deles terem sido escritos em países onde essa igreja não
exercia suficiente influência para ser notada como tal. Não é esse o caso do
Brasil, onde a grande maioria dos membros de nossas igrejas, teoricamente, veio
do catolicismo romano, já que essa igreja é majoritária (pelo menos
nominalmente) em nossa pátria desde o seu descobrimento, em 1500.
I.
RESUMO HISTÓRICO DO CATOLICISMO
A
Igreja Católica menciona o ano 33 d.C. como a data da sua fundação. Isto vem do
fato de que toda ramificação do Cristianismo costuma ligar a sua origem à
Igreja fundada por Jesus Cristo. Porém, quanto ao desenvolvimento da
organização eclesiástica e doutrinária da Igreja Romana, é muito difícil fixar
com exatidão a data de sua fundação, porque o seu afastamento das doutrinas
bíblicas deu-se paulatinamente.
1.1. Começo
da Degeneração
Durante
os primeiros três séculos da Era Cristã, a perseguição à Igreja verdadeira
ajudou a manter a sua pureza, preservando-a de líderes maus e ambiciosos. Nessa
época, ser cristão significava um grande desafio, e aqueles que fielmente
seguiam a Cristo sabiam que tinham suas cabeças a prêmio, pois eram rejeitados
e perseguidos pelos poderosos. Só os realmente salvos se dispunham a pagar
esse preço.
Graças
à tenacidade e coragem dos Pais da Igreja e dos famosos apologistas cristãos,
o combate da Igreja às heresias que surgiram nessa época resultou numa
expressão mais clara da teologia cristã. Quando os imperadores propuseram-se a
exterminar a Igreja Cristã, só os que estavam dispostos a renunciar o
paganismo e a sofrer o martírio declaravam sua fé em Deus.
Logo
no início do século IV, Constantino ascendeu ao posto de imperador. Isso
parecia ser o triunfo final do Cristianismo, mas, na realidade, produziu
resultados desastrosos dentro da Igreja. Em 312, Constantino apoiou o
Cristianismo e o fez religião oficial do Império Romano. Proclamando a si mesmo
benfeitor do Cristianismo, achou-se no direito de convocar um Concilio em
Nicéia, para resolver certos problemas doutrinários gerados por determinados
segmentos da Igreja. Nesse Concilio foi estabelecido o chamado "Credo dos
Apóstolos".
1.2. Causas
da Decadência da Igreja
A
decadência doutrinária, moral e espiritual da Igreja começou quando milhares
de pessoas foram por ela batizadas e recebidas como membros, sem terem
experimentado uma real conversão bíblica. Verdadeiros pagãos que eram,
introduziram-se no seio da Igreja trazendo consigo os seus deuses, que, segundo
eles, eram o mesmo Deus adorado pelos cristãos.
Nesse
tempo, homens ambiciosos e sem o temor de Deus começaram a buscar posições na Igreja
como meio de obter influência social e política, ou para gozar dos privilégios
e do sustento que o Estado garantia a tantos quantos fizessem parte do clero.
Deste modo, o formalismo e as crenças pagas iam-se infiltrando na Igreja até o
nível de paganizá-la completamente.
1.3. Raízes
do Papado e da Mariolatria
Desde
o ano 200 a.C. até o ano 276 da nossa Era, os imperadores romanos haviam
ocupado o posto e o título de Sumo Pontífice da Ordem Babilônica. Depois que o
imperador Graciano se negara a liderar essa religião não-cristã, Dâmaso, bispo
da Igreja Cristã em Roma, foi nomeado para esse cargo no ano 378. Uniram-se
assim numa só pessoa todas as funções dum sumo sacerdote apóstata e os poderes
de um bispo cristão.
Imediatamente
depois deste acontecimento, começou-se a promover a adoração a Maria como a
Rainha do Céu e a Mãe de Deus. Daí procederam todos os absurdos romanistas
quanto à humilde pessoa de Maria, a mãe do Salvador.
Enquanto
se desenvolvia a adoração a Maria, os cultos da Igreja de Roma perdiam cada vez
mais os elementos espirituais e a perfeita compreensão das funções
sobrenaturais da graça de Deus. Formas pagas, como a ênfase sobre o mistério e
a magia, influenciaram essa igreja. O sacerdote, o altar, a missa e as imagens
de escultura assumiram papel de preponderância no culto. A autoridade era
centralizada numa igreja dita infalível e não na vontade de Deus, conforme
expressada pela sua Palavra.
1.4. O Cisma
Entre o Oriente e o Ocidente
O
cisma entre o Oriente e o Ocidente logo tornou-se evidente. O rompimento final
aconteceu, em 1054, com a Igreja Ocidental, ou Romana, sediada em Roma, então
Capital do Império, por parte da Igreja Oriental, ou Ortodoxa, que assim
separou-se da Igreja Romana, ficando sediada em Constantinopla, hoje Istambul,
na Turquia. A Igreja Oriental guardou a primazia sobre os patriarcados de
Jerusalém, Antioquia e Alexandria.
Desde
então, a Igreja Romana, nitidamente desviada dos princípios ensinados por
Jesus no seu Evangelho, esteve como um barco à deriva, sem saber onde aportar.
Até que veio a Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero. Foi mais um
cisma na já combalida Igreja Romana.
II.
PAGANIZAÇÃO DA IGREJA ROMANA
Note
a seguir o processo da gradual paganização da Igreja Católica Romana, desde que
ela começou a abandonar a simplicidade do Evangelho de Cristo, até os nossos
dias:
Século
|
Ano
|
Dogma ou
Cerimônia
|
I-II
|
33-196
|
Nesse período da História, a Igreja
não aceitou nenhuma doutrina anti-bíblica.
|
II
|
197
|
Zeferino, bispo de Roma, começa um
movimento herético contra a divindade de Cristo.
|
III
|
217
|
Calixto se torna bispo de Roma,
pondo-se à frente da propaganda herética e levando a Igreja de Roma para mais
longe do caminho de Cristo.
|
III
|
270
|
Origem da vida monástica no Egito,
por Santo Antônio.
|
IV
|
370
|
Culto dos santos professado por
Basílio de Cesaréia e Gregório de Nazianzo. Primeiros indícios do turíbulo
(incensário), paramentos e altares nas igrejas, usos esses introduzidos pela
influência dos pagãos convertidos.
|
IV
|
400
|
Orações pelos mortos e sinal da cruz
feito no ar.
|
V
|
431
|
Maria é proclamada a "Mãe de
Deus".
|
VI
|
593
|
O dogma do Purgatório começa a ser
ensinado.
|
VI
|
600
|
O latim passa a ser usado como
língua oficial nas VI celebrações
litúrgicas.
|
VII
|
609
|
Começo histórico do papado.
|
VIII
|
758
|
A confissão
auricular é introduzida na igreja por religiosos do Oriente.
|
VIII
|
789
|
Início do
culto das imagens e das relíquias.
|
IX
|
819
|
A festa da
Assunção de Maria é observada pela primeira vez.
|
IX
|
880
|
Canonização
dos santos.
|
X
|
998
|
Estabelecimento do Dia de Finados.
|
X
|
998
|
Quaresma.
|
X
|
1000
|
Cânon da Missa.
|
XI
|
1074
|
Proíbe-se o casamento para os
sacerdotes.
|
XI
|
1075
|
Os sacerdotes casados devem
divorciar-se, compulsoriamente, cada um de sua esposa.
|
XI
|
1095
|
Indulgências plenárias.
|
XI
|
1100
|
Introduzem-se na igreja o pagamento
da missa e o culto aos anjos.
|
XI
|
1115
|
A confissão é transformada em artigo
de fé.
|
XII
|
1025
|
Entre os cônegos de Lião aparecem as
primeiras idéias da Imaculada Conceição de Maria.
|
XII
|
1160
|
Estabelecidos os 7 sacramentos.
|
XII
|
1186
|
O Concilio de Verona estabelece a
"Santa Inquisição".
|
XII
|
1190
|
Estabelecida a venda de
indulgências.
|
XII
|
1200
|
Uso do rosário por São Domingos,
chefe da inquisição.
|
XII
|
1215
|
A transubstanciação é transformada
em artigo de fé.
|
XIII
|
1220
|
Adoração à hóstia.
|
XIII
|
1226
|
Introduz-se a elevação da hóstia.
|
XIII
|
1229
|
Proíbe-se aos leigos a leitura da
Bíblia.
|
XIII
|
1264
|
Festa do Sagrado Coração.
|
XIII
|
1303
|
A Igreja Católica Apostólica Romana
é proclamada como sendo a única verdadeira, e somente nela o homem pode
encontrar a salvação...
|
XIV
|
1311
|
Procissão do Santíssimo Sacramento e
a oração da Ave-Maria.
|
XIV
|
|
|
XV
|
1414
|
Definição da comunhão com um só
elemento, a hóstia. O uso do cálice fica restrito ao sacerdote.
|
XV
|
1439
|
Os 7 sacramentos e o dogma do
Purgatório são transformados em artigos de fé.
|
XVI
|
1546
|
Conferida à Tradição autoridade
igual a da Bíblia.
|
XVI
|
1562
|
Declara-se que a missa é oferta
propiciatória e confirma-se o culto aos santos.
|
XVI
|
1573
|
É estabelecida a canonicidade dos
livros apócrifos.
|
XIX
|
1854
|
Definição do dogma da Imaculada
Conceição de Maria.
|
XIX
|
1864
|
Declaração da autoridade temporal do
papa.
|
XIX
|
1870
|
Declaração da infalibilidade papal.
|
XX
|
1950
|
A assunção de Maria é transformada
em artigo de fé.
|
Vale
salientar que alguns dos dados aqui registrados são apenas aproximados, pois
muitas e muitas vezes as doutrinas eram discutidas, algumas durante séculos,
antes de serem finalmente aceitas e promulgadas como artigos de fé, ou dogmas.
Um exemplo disto é o dogma do Purgatório, introduzido na Igreja Romana em 593,
mas só declarado artigo de fé no ano de 1439.
III.
É PEDRO O FUNDAMENTO DA
IGREJA?
A
Igreja Católica Romana considera o apóstolo Pedro como a pedra fundamental
sobre a qual Cristo edificou a sua Igreja. Para fundamentar esse ensino, apela,
principalmente, para a passagem de Mateus 16.16-19: "E Simão Pedro,
respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. E Jesus, respondendo,
disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne
e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do Reino dos céus; e tudo o
que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra
será desligado nos céus".
Dessa
passagem, a Igreja Romana deriva o seguinte raciocínio:
a.
Pedro é a rocha sobre a qual a Igreja está edificada.
b.
A Pedro foi dado o poder das chaves, portanto, só ele detém o poder de abrir a
porta do Reino dos céus.
c.
Pedro tornou-se o primeiro bispo de Roma.
d.
Toda autoridade foi conferida a Pedro até nossos dias, através da linhagem de
bispos e papas, todos vigários de Cristo na Terra.
3.1. Uma
Interpretação Absurda
Partindo
deste raciocínio, o padre Miguel Maria Giambelli põe o versículo 19 de Mateus
16 nos lábios de Jesus, da seguinte maneira: "Nesta minha Igreja, que é o
reino dos céus aqui na terra, eu te darei também a plenitude dos poderes
executivos, legislativos e judiciários, de tal maneira que qualquer coisa que
tu decretares, eu a ratificarei lá no Céu, porque tu agirás em meu nome e com a
minha autoridade" (A Igreja Católica e os Protestantes, p. 68).
Numa
simples comparação entre a teologia vaticana e a Bíblia, a respeito do
apóstolo Pedro e sua atuação no seio da igreja nascente, descobre-se quão
absurda é a interpretação romanista a respeito da pessoa e ministério desse
apóstolo do Senhor. Mesmo numa despretensiosa análise do assunto, conclui-se
que:
1)
Pedro jamais assumiu no seio do Cristianismo nascente a posição e as funções
que a teologia católico-romana procura atribuir-lhe.
O
substantivo feminino petra designa do grego uma rocha grande e
firme. Já o substantivo masculino petros é aplicado geralmente a pequenos
blocos rochosos, móveis, bem como a pedras pequenas, tais como a pedra de
arremesso. Pedro é petros = bloco rochoso e móvel e não petra =
rocha grande e firme. Portanto, uma igreja sobre a qual as portas do inferno não
prevaleceriam não poderia repousar sobre Pedro.
2)
De acordo com a Bíblia, Cristo é a pedra. "Estavas vendo isso, quando uma
pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro
e os esmiuçou" (Dn 2.34).
"Edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a
principal pedra da esquina" (Ef 2.20).
Nestes
versículos, "pedra" se refere a Cristo e não a Pedro.
Diz
o apóstolo Pedro: "Este Jesus é a pedra rejeitada por vós, os
construtores, a qual se tornou a pedra angular" (At 4.11, cf. Mc 12.10e
11). (Se desejar leia ainda Romanos 2.20; 9.33; 1 Coríntios 10.4 e 1 Pedro
2.4.)
3-2.
O Testemunho dos Pais da Igreja
Dos
oitenta e quatro Pais da Igreja antiga, só dezesseis crêem que o Senhor se
referia a Pedro quando disse "esta pedra". Dos outros Pais da Igreja,
uns dizem que esta expressão se refere à pessoa de Cristo mesmo, outros, à
confissão que Pedro acabara de fazer, e outros, ainda, a todos os apóstolos.
Portanto, se apelarmos para os Pais da Igreja dos primeiros quatro séculos, as
pretensões da Igreja Romana com referência a Pedro, redundam em sofismas.
Só
a partir do século IV começou-se a falar a respeito da possibilidade de Pedro
ser a pedra fundamental da Igreja, e isto estava intimamente relacionado com a
pretensão exclusivista do bispo de Roma.
À
luz das palavras do próprio apóstolo Pedro, Cristo é apetra (= rocha
grande e firme): "Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim,
pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa" (1 Pe 2.4).
Todos
os crentes são petros = blocos rochosos e moveis, "...vós mesmos,
como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio
santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por
intermédio de Jesus Cristo" (1 Pe 2.5).
IV. O ALEGADO PRIMADO DE PEDRO
Da
interpretação doutrinária que a Igreja Católica Romana faz de Mateus 16.16-19,
deriva outro grande erro: o ensino de que Jesus fez de Pedro o "Príncipe
dos Apóstolos", pelo que veio a se tornar o primeiro bispo de Roma, do
qual os papas, no decorrer dos séculos, são legítimos sucessores.
Esteve
Pedro em Roma alguma vez?
Há
uma opinião sobre uma remota possibilidade de que Pedro tenha estado em Roma.
Oscar
Cullman, teólogo alemão, escreve: "A primeira carta de Pedro... alude em
sua saudação final (5.13) à estada de Pedro em
Roma,
ao falar de 'Babilônia' como lugar da comunidade que envia saudações, pois que
a opinião mais provável é que 'Babilônia' designa Roma".
Também
Lietzmann, em sua obra Petrus and Paulus in Rome (Pedro e Paulo em
Roma), assim se expressa sobre o assunto:
"Mais
importante, porém, é a debatida afirmação de que Pedro, no decurso de sua
atividade missionária, tenha chegado a Roma e aí morrido como mártir. Visto que
esta questão está intimamente relacionada com a pretensão romana ao primado,
freqüentemente a polêmica confessional influi na discussão. A resposta a ela só
pode ser fruto de pesquisa histórica desinteressada. Como, porém, ao lado das
fontes neotestamentárias, vêm, em consideração, principalmente testemunhos
extra e pós-canônicos da literatura cristã antiga, e, além disto, documentos
litúrgicos posteriores, e ainda escavações recentes, esta questão não pode ser
aqui discutida em todos os seus pormenores. Queremos apenas lembrar que, até a
segunda metade do século II, nenhum documento afirmava expressamente a estada e
martírio de Pedro em Roma".
4.1. Pedro,
um Papa Diferente
Tenha
ou não estado em Roma, o fato é que, se Pedro foi papa, foi um papa diferente
dos demais que apareceram até agora. Se não, vejamos:
a.
Pedro era financeiramente pobre (At 3.6).
b.
Pedro era casado (Mt 8.14,15).
c. Pedro foi um homem humilde, pelo que não
aceitou ser adorado pelo centurião Cornélio (At 10.25,26).
d.
Pedro foi um homem repreensível (Gl 2.11-14).
É
de estranhar que Tiago — e não Pedro, o "Príncipe dos Apóstolos",
como ensina a teologia vaticana, fosse o pastor da comunidade cristã em
Jerusalém (At 15). Se Pedro tivesse sido papa, certamente não teria aceito a
orientação dos líderes da Igreja quanto à obra missionária (At 15.7). Se Pedro
tivesse sido papa, a ordem das "colunas", conforme Paulo escreve em Gálatas
2.9, seria: "Cefas, Tiago e João", e não "Tiago, Cefas e
João".
4.2. O Papa, um
Pedro Diferente
A
própria história do papado é uma viva demonstração de que os papas jamais
conseguiram provar serem sucessores do apóstolo Pedro, já que em nada se
assemelham àquele inflamado, mas humilde, servo do Senhor Jesus Cristo.
Vejamos,
por exemplo:
a.
Os papas são administradores de grandes fortunas da igreja. O clérigo José
Maria Alegria, da Universidade Gregoriana de Roma, declarou, no final do ano de
1972, que o balanço financeiro do Vaticano dispunha de um ativo de um bilhão de
dólares.
b.
Os papas são celibatários, isto é, não se casam, não obstante ensinarem que o
casamento é um sacramento.
c.
Os papas freqüentemente aceitam a adoração dos homens.
d.
Os papas consideram-se infalíveis nas suas decisões e decretos.
V.
O PURGATÓRIO
A
idéia do Purgatório tem suas raízes no budismo e em outros sistemas religiosos
da antigüidade. Até a época do papa Gregório I, porém, o Purgatório não havia
sido oficialmente reconhecido como parte integrante da doutrina romanista.
Esse
papa adicionou o conceito de fogo purificador à crença, então corrente, de que
havia um lugar entre o céu e o inferno, para onde eram enviadas as almas
daqueles que não eram tão maus, a ponto de merecerem o inferno, mas também, não
eram tão bons, a ponto de merecerem o céu. Assim, surgiu a crença de que o fogo
do Purgatório tem poder de purificar a alma e todas as suas escórias, até
fazê-la apta a se encontrar com Deus.
5.1. Alegadas
Razões Desse Dogma
Buscando
provar a existência do Purgatório, a Igreja Romana apela para algumas passagens
bíblicas, das quais extrai apenas falsas inferências, e nada mais. Entre os
versículos preferidos, destacam-se os seguintes:
•
"Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á isso
perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso
perdoado, nem neste mundo nem no porvir" (Mt 12.32).
•
"Digo-vos que toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão
conta no dia de juízo" (Mt 12.36).
•
"...se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será
salvo, todavia, como que através do fogo" (1 Co 3.15).
5.2. Uma
Descrição do Purgatório
De
acordo com a teologia romanista, o Purgatório, além de ser um lugar de
purificação, é também um lugar onde a alma cumpre pena; pelo que o fogo do
Purgatório deve ser temido grandemente. O fogo do Purgatório será mais
terrível do que todo o sofrimento corporal reunido. Um único dia nesse lugar
de expiação poderá ser comparado a milhares de dias de sofrimentos terrenos.
O
escritor católico Mazzarelli faz seus cálculos à base de trinta pecados
veniais por dia, e, para cada pecado, um dia no Purgatório, perfazendo um
total de mil e oitocentos anos, caso o pecador tenha sessenta anos de vida na
Terra, devendo-se acrescentar aos veniais os pecados mortais absolvidos, mas
não plenamente expiados.
5.3. Quem
Vai para o Purgatório?
A
pergunta: Que espécie de gente vai para o Purgatório? — responde o papa Pio IV:
"1. Os que morrem culpados de pecados menores, que costumamos chamar
veniais, e que muitos cristãos cometem — e que, ou por morte repentina, ou por outra
razão, são chamados desta vida, sem que se tenham arrependido destas faltas
ordinárias. 2. Os que, tendo sido formalmente culpados de pecados maiores, não
deram plena satisfação deles à justiça divina" (A Base da Doutrina
Católica Contida na Profissão da Fé).
Pátio da
Catedral de São Pedro, em Roma, centro de peregrinação e de paganização do
mundo
Apesar
do fato de as almas no Purgatório, segundo o ensino da Igreja Romana, terem
sido já justificadas no batismo e pelo batismo, a justiça divina, contudo, não
ficou plenamente satisfeita. Desse modo, a alma, embora escape do inferno,
precisa suportar, por causa dos seus pecados que ainda restam por expiar
depois da morte, a punição temporária do Purgatório. Isso foi categoricamente
afirmado pelo Concilio de Trento: "Se alguém disser que, depois de receber
a graça da justificação, a culpa é perdoada ao pecador penitente, e que é
destruída a penalidade da punição eterna, e que nenhuma punição fica para ser
paga, ou neste mundo ou no futuro, antes do livre acesso ao reino a ser aberto,
seja anátema" (Seção VI).
5.4.
Sufrágios pelos que se Acham no
Purgatório
Entre
o que pode assistir aos que se encontram no Purgatório, há três atos que se
destacam no ensino romanista, que são:
5.4.1.
Orações pelos mortos
E
de se supor que a prática romanista de interceder pelos mortos tenha-se gerado
da falsa interpretação às seguintes palavras de Paulo: "Antes de tudo,
pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de
graça, em favor de todos os homens" (1 Tm2.1).
5.4.2.
Missas
As
missas são tidas como os principais recursos empregados em benefício das almas
que estão no Purgatório, pois, segundo o ensino romanista, a missa beneficia
não só a alma que sofre no Purgatório, como também acumula méritos àqueles que
as mandam dizer.
5.4.3. Esmolas
Dar
esmolas com a intenção de aplicá-las nas necessidades da alma que pena no
Purgatório "é jogar água nas chamas que a devoram". Pretende a
Igreja Romana que, "exatamente como a água apaga o fogo mais violento,
assim a esmola lava o pecado".
Ainda
sobre o Purgatório, o Concilio de Trento declarou: "Desde que a Igreja
Católica, instruída pelo Espírito Santo nos sagrados escritos e pela antiga
tradição dos Pais, tem ensinado nos santos concílios, e ultimamente, neste
Concilio Ecumênico, que há o Purgatório, e que as almas nele retidas são
assistidas pelos sufrágios das missas, este santo concilio ordena a todos os
bispos que, diligentemente, se esforcem para que a salutar doutrina concernente
ao Purgatório — transmitida a nós pelos veneráveis pais e sagrados concílios —
seja crida, sustentada, ensinada e pregada em toda parte pelos fiéis de
Cristo" (Seção XXV).
5.5. Refutação
O
Purgatório não é somente uma fábula engenhosamente montada, mas a sua doutrina
se constitui num vergonhoso sacrilégio à honra de Deus e num desrespeito à obra
perfeita efetuada por Cristo na cruz do Calvário. Essa doutrina, além de
absurda e cruel, supõe os seguintes disparates e blasfêmias:
•
Não obstante Deus declare que já nenhuma condenação há para os que estão em
Cristo Jesus (Rm 8.1), contudo, Ele se contradiz a si mesmo quando lança o
salvo no Purgatório, para expiar os pecados já purgados.
•
Deus não queima os seus filhos no Purgatório para satisfazer à sua justiça já
satisfeita pelo sacrifício de Cristo, mas para satisfazer a si mesmo!
•
Ao lançar seus filhos no Purgatório, Deus está com isto dizendo que o
sacrifício do seu Filho foi imperfeito e insuficiente!
•
Jesus, que dos céus intercede pelos pecadores, vê-se impossibilitado de livrar
as almas que estão no Purgatório, porque só o papa possui a chave daquele
cárcere!
•
Dizer que as almas expiam suas faltas no Purgatório é atribuir ao fogo o poder
do sacrifício de Jesus, e ignorar completamente a obra que Cristo efetuou no
Gólgota!
•
Que o castigo do pecado fica para depois de perdoado!
Estes
disparates provêm dum erro da teologia vaticana, segundo o qual a obra
expiatória de Cristo satisfez a pena devida aos pecados cometidos antes do
batismo, e não daqueles que foram cometidos posteriormente.
Todas
estas incoerências sobre o dogma do Purgatório estão em contradição com as
seguintes afirmações bíblicas:
a.
Quanto à perfeita libertação do pecado (Jo 8.32,36).
b.
Quanto ao completo livramento do juízo vindouro (Jo 5.24).
c.
Quanto à completa justificação pela fé (Rm 5.1,2).
d.
Quanto à intercessão de Cristo (1 Jo 2.1).
e.
Quanto ao atual estado dos salvos mortos (Lc 23.43;Ap 14.13).
f.
Quanto à bem-aventurada esperança do salvo (Fp 1.21,23;2Co5.8).
O
que a Igreja Católica Romana chama "Purgatório", a Bíblia chama
"Gehenna", ou "Inferno", lugar de suplício eterno, de onde
aqueles que nele são lançados, jamais sairão (leia Lucas 16.19-31 e veja que
nada poderá ser feito em favor daqueles infelizes que são lançados nesse lugar
de terrível suplício). A esses está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois
disto o juízo (Hb 9.27), quando serão julgados e condenados ao Lago de Fogo.
A
salvação oferecida por Cristo é uma salvação perfeita e total, pois ela é o
resultado da misericórdia de Deus e do sangue do seu amado Filho.
"Se,
porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1.7,9).
O
purgatório do crente é o sangue de Jesus.
VI.
A TRADIÇÃO E A BÍBLIA
Em
1929, sobre a Bíblia, escreveu o padre Bernhard Conway: "A Bíblia não é a
única fonte de fé, como Lutero ensinou no século XVI, porque, sem a
interpretação de um apostolado divino e infalível, separado da Bíblia, jamais
poderemos saber, com certeza, quais são os livros que constituem as Escrituras
inspiradas, ou se as cópias que hoje possuímos concordam com os originais. A
Bíblia, em si mesma, não é mais do que letra morta, esperando por um intérprete
divino; ela não está arranjada de forma sistemática; é obscura, e de difícil entendimento,
como São Pedro diz de certas passagens das Cartas de Paulo (2 Pe 3.16, cf. At
8.30,31); como ela é, está aberta à falsa interpretação. Além disso, certo
número de verdades reveladas têm chegado a nós, somente por meio da Tradição
divina" (The Question Box).
No
Compêndio do Vaticano II, lê-se o seguinte: "Não é através da Escritura
apenas que a Igreja deriva sua certeza a respeito de tudo que foi revelado. Por
isso ambas (Escritura e Tradição) devem ser aceitas e veneradas com igual
sentido de piedade e reverência" (p. 127).
6.1.
Estabelecida a Tradição
Desde
que muitas inovações anticristãs começaram a ser aceitas pela Igreja Romana,
esta começou a ter dificuldades em como justificá-las à luz das Escrituras.
Desse modo, em vez de deixar o paganismo e voltar-se para a Bíblia, o clero fez
exatamente o contrário: no Concilio de Tolosa, em 1229, tomaram a medida extrema
de proibir o uso da Bíblia pelos leigos.
Até
a Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana não havia ainda tomado nenhuma
posição no sentido de conferir à Tradição autoridade igual à da Bíblia Sagrada.
Isto devido à generalizada ignorância do povo a respeito das Escrituras.
Porém, com o advento da Reforma Protestante no século XVI, o valor da Bíblia,
como única regra de fé e prática do cristão, foi exaltado, e a sua mensagem
pregada onde quer que se fizesse sentir a influência desse evento. Como a
maioria dos dogmas da Igreja Romana não tivesse o apoio da Bíblia, o clero em
mais uma demonstração de rejeição das Escrituras, foi levado a estabelecer a
Tradição como autoridade para apoiar os seus dogmas e enganos.
A
ênfase bíblica da mensagem reformada forçou o clero da Igreja Romana a
reavaliar a decisão do Concilio de Tolosa, e passou a permitir a leitura da
Bíblia pelos leigos, desde que satisfeitas as seguintes exigências:
a.
Que a Bíblia fosse editada ou autorizada pelo clero;
b.
Que os leigos não formassem juízo próprio dos seus ensinos;
c.
Que os leigos só aceitassem a sua interpretação quando feita pelo clero.
Impedidos
de interpretar a Bíblia por si mesmos, os leigos estavam privados da possibilidade
de ver quão desrespeitosos à Bíblia são os dogmas acobertados pela Tradição. Só
dessa forma, os dogmas fundamentados na Tradição estariam resguardados de
julgamento e a Bíblia reduzida, assim, a um livro ininteligível e destituído de
autoridade.
"A
questão da autoridade na Igreja Romana foi sempre uma dolorosa questão, mas a
História revela que a sua tendência sempre foi de flutuar de um para outro
ponto, com propensão para fincar-se no papado. Esta foi a evolução da
autoridade: das Escrituras para a Tradição, desta para a Igreja, da Igreja
para o clero e deste para o papado que, em 1870, diria: A tradição sou eu"
(Fé e Vida, maio de 1943).
6.2.
Tradição, Traição ao Evangelho
A
Tradição da Igreja Romana é, sem dúvida alguma, um "outro evangelho"
(Gl 1.8); antítese do Evangelho do Senhor Jesus
Cristo.
Ela não tinha lugar na igreja primitiva. O Evangelho só, contém "todo o
conselho de Deus" (At 20.27), dispensando, portanto, a tradição vaticana.
Paulo,
o maior escritor e doutrinador do Novo Testamento, cujo ministério estava
fundamentado no Evangelho, falou sobre a suficiência deste quando escreveu:
"Antes de tudo vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos
nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Co 15.3,4, ênfase
do autor).
A
Tradição não pode resistir a uma análise por parte de famosos cristãos da
antigüidade, tampouco diante das Escrituras.
Cipriano,
no século III, disse:
"A tradição, sem a verdade, é o erro envelhecido".
Tertuliano
afirmou: "Cristo se intitulou a Verdade, mas não a tradição... Os hereges
são vencidos com a Verdade e não com novidades".
No
ano 450, disse Venâncio: "Inovações são coisas de hereges e não de crentes
ortodoxos".
Jerônimo,
o tradutor da "Vulgata", tradução oficial da Bíblia usada pela Igreja
Romana, escreveu: "As coisas que se inventam e se apresentam como
tradições apostólicas, sem autoridade e testemunho das Escrituras, serão
atingidas pela Espada de Deus".
A
Confissão de Fé de Westminster traz num dos seus decretos algo que os católicos
deveriam ler e não esquecer, que diz: "O Supremo Juiz, pelo qual todas as
controvérsias de religião são determinadas e todos os decretos de concílios,
opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e espíritos privados serão
examinados e cujas sentenças devemos acatar, não pode ser outro senão o
Espírito Santo, falando através das Escrituras."
VII.
A VIRGEM MARIA
A
essência da adoração na Igreja Católica Romana gira não em torno do Pai, do
Filho e do Espírito Santo, mas da pessoa da Virgem
Maria.
No decorrer dos séculos as mais diferentes e absurdas crendices têm sido
criadas em torno da humilde mãe do Salvador.
7.1. A Teologia
Mariana
Decreta
o Concilio Vaticano II: "Os fiéis devem venerar a memória primeiramente da
gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo".
Dentre
as muitas declarações em torno de Maria, destacam-se as seguintes:
7.1.1. Concebida
sem pecado
"Daí
não admira que nos Santos Padres prevalece o costume de chamar a Mãe de Deus
toda santa, imune de toda mancha de pecado, como que plasmada pelo Espírito
Santo e formada nova criatura" (Compêndio Vaticano II, p. 105).
7.1.2. Sempre
virgem
"Maria
sempre foi virgem: Esta é doutrina tradicional da Igreja Católica. No entanto
a grande maioria das Igrejas Protestantes afirma que Maria não guardou a sua
virgindade e teve outros filhos além de Jesus" (A Igreja Católica e os
Protestantes, p. 88).
7.1.3. Medianeira
e intercessora
"A
Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada,
Auxiliadora, Adjutriz, Medianeira" (Compêndio Vaticano II, p. 109).
7.2. O Cúmulo
do Absurdo
Há
alguns anos foi publicado na imprensa de uma capital latino-americana um
discurso de um cardeal católico-romano. O eminente prelado recorda este sonho.
Ele sonhou que estava na cidade celestial. Ouviu-se bater à porta. Foi
comunicado a Deus que um pecador da Terra estava pedindo entrada. "Cumpriu
ele as condições?" foi a pergunta. A resposta foi: "Não!"
"Então não pode entrar", foi o veredicto. Nesse ponto, a virgem
Maria, que estava sentada à direita do seu Filho, falou: "Se esta alma não
entrar eu me ponho fora". A porta abriu-se e o pecador entrou.
7.3.0 Testemunho das Escrituras
Invocando
o testemunho das Escrituras, concluímos que:
7.3.1.
Maria não foi concebida sem pecado
O
que a Bíblia declara é que "todos pecaram e carecem da glória de
Deus" (Rm 3.23). Só a respeito de Cristo é que pode ser dito: "Com
efeito nos convinha um sumo sacerdote, assim como este, santo, inculpável, sem
mácula, separado dos pecadores, e feito mais alto do que os céus" (Hb 7.26).
7.3.2.
Maria teve outros filhos
Além
de João 2.12, o Novo Testamento se refere aos irmãos de Jesus, ainda em Mateus
12.46; 13.55,56; Marcos 3.31; Lucas 8.19; João 7.3,5,10; Atos 1.14; 1 Coríntios
9.5 e Gálatas 1.19. Os ensinadores romanistas dizem que aqueles a quem o Novo
Testamento chama de irmãos de Jesus, na realidade são seus primos. Esta
interpretação é errônea e visa fortalecer o dogma da perpétua virgindade de
Maria (leia Lucas 1.36, e veja que irmãos e primos são distintos no Novo
Testamento).
O
fato de Maria ter sido virgem no ato da concepção de Jesus é ponto pacífico nas
Escrituras, porém, afirmar que ela continuou virgem após o parto é antítese de
Mateus 1.25: "Contudo, não a conheceu, enquanto não deu à luz um filho, a
quem pôs o nome de Jesus".
7.3.3.
Maria não exerce mediação a favor do
pecador
"Porque
há um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem" (1 Tm 2.5).
"Se, todavia, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo,
o justo" (1 Jo 2.1).
7-3-4-
Só Cristo intercede pelo pecador
"Por
isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo
sempre para interceder por eles" (Hb 7.25).
Epifânio,
grande apologista cristão do século IV, diz o seguinte aos católicos de hoje:
"Não
se devem honrar os santos além do que é justo, mas deve-se honrar o Senhor
deles. Maria, de fato, não é Deus nem recebeu do céu o seu corpo, mas de uma
concepção de um homem e de uma mulher. Santo é o corpo de Maria; ela é virgem e
digna de muita honra mas não foi dada para adoração, antes, ela adora aquele
que nasceu da sua carne. Honre-se Maria, mas adore-se o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Ninguém adore a Virgem Maria".
Ao
mesmo tempo, disse Ambrósio de Milão: "Maria era o templo de Deus, não o
Deus do templo. Deve-se adorar então somente aquele que opera no templo".
VIII.
A MISSA
Dentre
os muitos chamados "sacramentos" da Igreja católica Romana, destaca-se
a missa.
8.1.
Definição da Missa
O
que a missa é no contexto do Catolicismo Romano é definido pelo padre Miguel
Maria Giambelli:
"O
que nós, católicos, chamamos 'missa', os primeiros cristãos de Jerusalém
chamavam de 'partir do pão', porque foi exatamente isto o que fez Jesus na
última ceia: 'Tomou o pão, deu graças e partiu...'" S. Paulo lembra aos
coríntios que todas as vezes que eles se reúnem para comer deste pão e beber
deste cálice, anunciam a morte do Senhor, isto é, eles renovam o sacrifício do
Calvário.
"O
apóstolo Paulo alerta os coríntios de que aquele pão e aquele vinho, após as
palavras consagradas, não são mais pão e vinho comuns, mas são algo de
misterioso que esconde o corpo sagrado de Jesus, e quem, portanto, se atrever e
comer deste pão e beber deste vinho sem as devidas condições espirituais, comete
uma profanação tão sacrílega que o torna réu de um crime contra o corpo e o
sangue do Senhor Jesus. Daí porque São Paulo continua alertando os coríntios a
tomarem muito a sério o ato de comer deste pão e beber deste cálice consagrado
na eucaristia, porque quem os come e bebe sem crer firmemente que são corpo
vivo de Cristo, e, portanto, sem fazer distinção entre o pão comum da padaria
e pão consagrado 'come e bebe sua própria condenação!'" (A Igreja
Católica e os Protestantes, p. 27).
Deste
ensino deduz-se que Giambelli afirma:
a.
Missa e santa ceia do Senhor são a mesma coisa.
b.
A missa renova o sacrifício do Calvário.
c.
O pão e o vinho usados na missa são transubstanciados no próprio corpo de
Cristo no momento da celebração.
d.
Quem não diferençar o pão que é servido na missa do que é vendido na padaria,
"come e bebe sua própria condenação".
8.2.0
Que Dizem as Escrituras
Esse
ensino é errado, portanto, contrário àquilo que as Escrituras Sagradas
ensinam.
O
recurso que a Igreja Romana usa para confundir o significado da expressão
"... em memória..." com a palavra "... renovar", se
constitui numa incoerência, primeiro à luz da Bíblia, e depois à luz da
gramática. No Dicionário da Língua Portuguesa, de Augusto Miranda, a expressão
"em memória" tem como sinônimo a expressão "em lembrança";
enquanto a palavra "renovar" tem como sinônimo a palavra
"recompor". Portanto, uma nada tem a ver com a outra.
Se
a morte de um amigo nos vem à memória, isto não é a mesma coisa que renová-la.
Existem vários versículos na Bíblia que falam da impossibilidade de se renovar
o sacrifício de Cristo, entre os quais se destacam: Hebreus 7.26,27; 10.12-14;
1 Pedro 3.18 e Romanos 6.9.
8.3.
O Problema da Transubstanciação
Não
há um só versículo nas Escrituras em apoio à tese do Concilio de Trento de que
o pão e o vinho usados na missa, ao serem consagrados, tornam-se, ou
transubstanciam-se, em Jesus, física e espiritualmente, assim como Ele está no
céu. Veja, por exemplo:
a.
Mesmo após a ressurreição, não obstante gozando do privilégio de um corpo
espiritual, Jesus não bilocou-se, isto é, Ele não esteve em dois lugares ao
mesmo tempo. Se estava em Emaús, não estava em Jerusalém. Ele estava num só
lugar de cada vez. Como pretende, pois, a teologia vaticana provar que Jesus
esteja fisicamente, tanto no céu como nas hóstias espalhadas nos sacrários dos
templos católicos por todo o mundo?
b.
Quando Jesus diz: "E eis que estou convosco todos os dias até a consumação
dos séculos" (Mt 28.10), Ele não sugere que estaria fisicamente através do
pão e do vinho da missa, mas espiritualmente, assim como esteve com Paulo,
conforme Atos 18.9,10.
c.
O corpo de Cristo hoje na Terra não é o pão e o vinho usados na celebração da
missa, mas a sua Igreja, conforme mostram as seguintes passagens bíblicas: 1
Coríntios 10.16,17; 12.27; Efésios 1.22,23; 4.15,16; 5.30.
Outra
prova de que missa e santa ceia do Senhor são cerimônias diferentes, é que na
missa os comungantes só tomam um elemento (a hóstia) enquanto o vinho é tomado
exclusivamente pelo padre celebrante, quando a ordem novitestamentária é:
"Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do
cálice" (1 Co 11.28).
IX.
OS LIVROS APÓCRIFOS
Muitas
perguntas têm sido feitas e muitas questões têm sido levantadas quanto aos
livros apócrifos. Os católicos chegam mesmo a afirmar que a Bíblia usada pelos
evangélicos (aos quais chamam "protestantes") é incompleta e falha
por faltarem nela os livros apócrifos. Muitos evangélicos, por sua vez,
perguntam por que a nossa Bíblia não contém tais livros.
9.1.
Definição de "Apócrifo"
Empregamos
aqui o termo apócrifo num sentido restrito, forçando um pouco o sentido
original da palavra, e pondo de parte o caráter de certos escritos, aos quais o
referido termo se aplica. A palavra "apócrifo", literalmente,
significa "oculto". Porém, no decorrer dos tempos e em razão do uso,
o termo já não tem o sentido de "oculto", mas de
"espúrio", isto é, "não-puro".
No
tempo da Reforma, o termo "apócrifo" foi definitivamente aplicado a
esses livros não-canônicos contidos na Vulgata, pois não faziam parte do cânon
hebraico. Seu significado oposto ao termo "canônico" acarretou, para
esses livros, o desprezo que se sentia pela literatura apocalíptica e oculta,
tanto judaica como cristã-judaica.
9.2.
Relação dos Apócrifos
O
número de livros apócrifos vai muito além daqueles que a Bíblia de uso católico
contém, porém os mais conhecidos, e aqui citados, são aqueles que foram
aprovados pela Igreja Católica no Concilio de Trento, em 1546. Destes, mais da
metade são inseridos nas Bíblias de edição católica. Alguns desses livros são
também inseridos em Bíblias de editoras protestantes, para estudo e
investigação da crítica textual e devido ao seu relativo valor histórico.
Os
apócrifos consistem em livros assim chamados, e em acréscimos a livros
canônicos. A sua aprovação pela Igreja Católica deu-se, como já dissemos, em
1546, no Concilio de Trento, em meio a intensa controvérsia, havendo inclusive
luta física resultante da contenda e dos debates em torno deles. Os livros, e
acréscimos a livros canônicos, aprovados, foram os seguintes: Tobias, Judite,
acréscimo ao livro canônico de Ester, Sabedoria de Salomão,
Eclesiástico,
Baruque (contendo a Epístola de Jeremias), Cântico dos Três Santos Filhos
(acréscimo a Daniel), História de Susana e Bel e o Dragão (também acréscimos a
Daniel), 1 e 2 Macabeus.
Eram
14 os principais apócrifos do Antigo Testamento. Destes, os não reconhecidos
pelo Concilio de Trento foram 1 e 2 Esdras e A Oração de Manasses.
9.3.
Questões a Considerar
Por
que estes livros são considerados apócrifos e não canônicos? A razão óbvia é
que eles não suportam uma prova de canonicidade, como é mostrado a seguir:
•
Eles nunca fizeram parte do cânon hebraico.
•
Eles nunca foram citados no Antigo Testamento.
•
Joséfo, o historiador judeu, os omite em seus escritos.
•
Nenhum deles reclama a inspiração divina para si.
•
Eles contêm erros históricos, geográficos e cronológicos.
•
Eles ensinam e apóiam doutrinas que são contrárias às Escrituras em geral.
•
Como literatura, às vezes não passam de mitos e lendas.
•
Em geral, seu nível espiritual e moral deixa muito a desejar.
•
Jesus não os cita em seus escritos.
•
Os apóstolos e escritores dos Evangelhos, das Epístolas e do Apocalipse não se
referem a eles nos seus escritos.
•
Os famosos Pais da Igreja primitiva não se reportam a eles como fonte de
inspiração dos seus escritos.
•
Eles foram escritos muito tempo depois de encerrado o cânon do Antigo
Testamento.
Certamente
que nem todas as igrejas têm a mesma opinião quanto ao valor dos apócrifos. A
Igreja Reformada, por exemplo, sempre considerou os livros não-canônicos como
de relativo valor, "para exemplo de vida e instrução de costumes, ainda que
sem autoridade em matéria de fé".
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