529
Bento de Núrsia estabelece sua ordem monástica
Depois que o cristianismo foi aceito
no governo de Constantino, foi difícil distinguir entre os que seguiam a
Cristo, pois essa era a atitude mais popular a ser adotada, e os que tinham fé
verdadeira. O resultado foi que muitos cristãos zelosos buscaram se separar das
massas, afastando-se delas.
Eremitas como Antão tornaram-se
famosos por suas façanhas de au-tonegação. Viviam sem comida e sem dormir para
buscar a santidade. Ficavam em pé por horas enquanto oravam e chegaram até
mesmo a viver no topo de pilares. Os que haviam se cansado da igreja, que fazia
muitas concessões e estava carregada de pecado, sentiram atração pelo
comportamento bizarro que parecia provar a dedicação dos eremitas a Deus.
Por volta do ano 320, Pacômio deu
origem ao monasticismo comunal. Ciente de que a tendência rumo à autonegação
poderia sair do controle e até mesmo degenerar em uma disputa espiritual,
Pacômio se esforçou para regulamentar o estilo de vida asceta, permitindo a
vida simples de autonegação que tivesse limites. Outros, como Basilio, o Grande
(330-379), e os cristãos irlandeses, também fundaram comunidades monásticas.
Porém, Bento de Núrsia se tornou a
verdadeira força por trás do monas-ticismo europeu. Ele nasceu em uma família
italiana de classe alta e, ainda jovem, foi estudar em Roma. Contudo, a cidade
que tinha a reputação de ser uma das mais cristãs do mundo era considerada por
ele imoral e frivola. Aborrecido com esse fato, Bento partiu e se tornou
eremita.
Adquiriu grande reputação porsua
espiritualidade, a ponto de famílias trazerem seus filhos para que fossem
treinados por ele na vida cristã. Com bastante relutância, o eremita concordou
em se tornar abade. Quando se mostrou austero disciplinador, porém, o
entusiasmo que as pessoas tinham por Bento arrefeceu. Um monge chegou até mesmo
a tentar envenená-lo. Temendo por sua vida, Bento se escondeu em uma caverna e,
depois, deixou a região. Contudo, seus problemas ensinaram uma importante
lição: a disciplina é boa, mas expõe a fragilidade da natureza humana.
Por volta do ano 529, Bento se mudou
para o monte Cassino onde demoliu um templo pagão que ainda estava em uso, para
construir um mosteiro no lugar.
Se Bento apenas tivesse dado um
monasterio para a igreja, provavelmente não seria tão lembrado. A regra que ele
escreveu para governar aquele mosteiro foi, de longe, muito mais importante que
o edifício. Bento concebeu o mosteiro como uma comunidade au-tocontrolada e auto-sustentada
que tinha seus campos e oficinas. Ele queria criar uma "fortaleza
espiritual" para assegurar que os monges não precisassem ir a qualquer
outro lugar para satisfazer as necessidades da vida. Dentro do confinamento da
comunidade, os monges teciam as próprias roupas, plantavam a própria comida e
faziam sua própria mobília. Vagar fora do perímetro do mosteiro era considerado
grande perigo espiritual.
Como Bento já vira antes, alguns dos
pretensos monges tinham um comprometimento muito fraco. Assim, criou noviciado
de um ano, um tempo no qual o monge poderia decidir se era realmente o que
queria. Somente depois desse período de testes é que ele faria os três votos
que o desligariam completamente do mundo. O voto de pobreza exigia que
ele entregasse todos os seus bens pessoais à comunidade; o voto de castidade
o levava a renunciar a todos os relacionamentos sexuais; o voto de obediência
era promessa de obedecer sempre aos líderes do mosteiro.
A adoração desempenhava papel muito
grande na vida monástica. A Região de São Bento prescrevia sete cultos por
dia, incluindo-se um culto de vigília que acontecia às duas horas da manhã,
considerado muito importante. Cada culto tinha cerca de vinte minutos e
consistia praticamente da recitação de salmos.
Além da adoração pública, os monges
tomavam parte em devoções pessoais: leitura da Bíblia, meditação e oração.
Embora muitos acusassem as comunidades monásticas de se afastarem do mundo, os
monges sempre oravam por quem estava fora de seus muros.
"O ócio é o inimigo da
alma", declarava a Regra. Assim, todos os monges tinham de tomar
parte no trabalho manual, incluindo a preparação de alimentos.
Embora essa vida de trabalho, oração
e adoração possa parecer tediosa, foi uma tentativa de criar uma vida ordeira
sem ir a extremos.
Bento também tentou disponibilizar a
vida santa aos seres humanos comuns. Em sua regra, escreveu: "Se parecemos
muito severos, não se assuste e não saia correndo. A entrada para o caminho da
salvação deve ser estreita. Contudo, conforme você progride na vida da fé, o
coração se expande e anda mais rápido com a doçura do amor por todas as veredas
dos mandamentos de Deus".
Vivendo em uma era cruel e instável,
o monasticismo beneditino forneceu refúgio aos que eram sensíveis à religião.
Embora a Europa Ocidental tivesse se tornado nominalmente cristã, a maior parte
da população ainda tinha comportamento pagão. Bento ofereceu uma vida calma,
nobre e cheia de propósitos que não estava disponível fora do claustro. Muitas
pessoas podem não simpatizar com esse afastamento, mas é certamente
compreensível por que muitos buscavam a paz em meio a um mundo vulgar.
Bento deu ao monasticismo um lugar
permanente na Europa ocidental — para o bem ou para o mal. Sua Regra orienta
comunidades monásticas há vários séculos e ainda está em vigência atualmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário