domingo, 2 de setembro de 2012

590 Gregorio I se torna Papa


590

Gregorio I se torna papa

Embora não fosse mais a capital do império, Roma ainda possuía prestígio. Além do mais, a antiga cidade tinha ligações com os apóstolos Pedro e Paulo.
Por muitos anos, os bispos de Roma tentaram expandir o poder que conquistaram. Paulatinamente, a cidade alcançou posição de proeminência sobre as outras dioceses, e o bispo de Roma se tornou o papa.
Contudo, o homem que mais contribuiu para o incremento da autoridade e do poder do papado não fez isso buscando o ganho político. O humilde monge, que não procurava altos postos, chegou ao papado contra a própria vontade.
Gregorio nasceu em 540 de uma nobre família romana, que possuía uma história relacionada a serviços prestados na esfera política. Ele se tornou chefe da prefeitura de Roma, o mais alto cargo civil. Porém, não se sentia talhado para a vida pública e acabou renunciando, dividindo suas propriedades para a fundação de mosteiros, vindo a se unir a um deles posteriormente. Alguns anos mais tarde, ele mesmo se tornaria abade.
Sua piedade e, sem dúvida, seu passado de administrador habilidoso atraíram a atenção das pessoas. Em 590, quando o papa morreu, os romanos, de maneira unânime, pediram a Gregorio que se tornasse seu sucessor. Embora Gregorio se recusasse a fazê-lo, a vontade pública prevaleceu.
Como já fora um homem de Estado, o novo papa transpôs sua habilidade de governar para seu novo ofício. Quando os lombardos ameaçaram Roma, Gregorio pediu ajuda ao imperador em Constantinopla. Como esse apoio não chegou, o bispo de Roma reuniu as tropas, negociou tratados e fez tudo o que era necessário para promover a paz. As ações independentes de Gregorio provaram ao exarca do imperador (seu representante que estava em Rave-na), que o papa era bastante capaz para manter a ordem em Roma. Esses movimentos políticos se tornariam uma espécie de primeiros passos para a divisão dos cristãos nos impérios do Oriente e do Ocidente.
Gregorio, porém, não tinha ambições políticas. Seus interesses eram espirituais. Extremamente preocupado com o cuidado pastoral, insistia em que o clero visse a si mesmo como um grupo de pastores e servos do rebanho. Dizia que era "servo dos servos de Deus", e sua obra intitulada Livro do cuidado pastoral — um estudo maravilhosamente criterioso sobre as provações espirituais das pessoas e a maneira pela qual o clero deveria lidar com elas — tornou-se uma espécie de livro-texto ministerial da Idade Média.
Outra obra sua, Diálogos, foi a primeira tentativa de hagiografía — biografia dos santos — que enfatizava o fantástico e o miraculoso, o que acabou por transformar os santos em uma espécie de super-heróis da época. Durante seu papado, a veneração de partes do corpo, de roupas e de outros pertences dos santos foi encorajada, e isso viria a se transformar em uma das principais características da piedade medieval. Por vários séculos, nenhuma igreja poderia se estabelecer se não tivesse alguma relíquia de um santo para ser colocada nela.
Embora Gregorio não afirmasse ser teólogo, algumas de suas crenças se tornaram essenciais para a teologia católica. Ele acreditava no purgatório e ensinava que as missas celebradas a favor dos mortos poderiam aliviar as dores dos que estavam naquele local. Além disso, ajudou a popularizar o ensino de Dionisio Areopagita, que escreveu sobre diversas categorias de anjos. Depois de Gregorio, essas idéias se tornariam grandemente aceitas.
Embora não tenha sido ele o criador do canto gregoriano, Gregorio era bastante interessado na música da igreja (o cantochão deve muito à sua influência).
Além disso, Gregorio autorizou uma missão evangelística à região de Kent, liderada por Agostinho, o missionário que, mais tarde, se tornaria o primeiro arcebispo da Cantuária. Embora o cristianismo já tivesse alcançado a Bretanha, ao enviar essa missão sob a liderança de Agostinho, o papa estava estendendo o poder de Roma àquelas ilhas. O cristianismo, que tinha em Roma sua liderança, começava a tomar forma.
O bispo de Constantinopla afirmava ser o Patriarca Ecumênico (no sentido de "universal" ou "global").
Gregorio tanto se recusou a aceitar o uso desse título quanto o rejeitou para si mesmo. Tudo o que fez, porém, mostrou que Gregorio via a si mesmo como o pastor-chefe de uma igreja mundial.
Em um espaço de 14 anos, Gregorio realizou tantos feitos que as gerações posteriores o denominavam de Gregorio, o Grande. Talvez ele tenha se tornado grande por ter sido um homem humilde.

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