Uma Vez Salvo, Sempre Salvo?
O fato de que alguns sejam perturbados sobre um tema tão claro e frequentemente tão exposto como o da justificação pela fé, é prova cabal de que o inimigo continua repetindo seus ataques. Da mesma forma que o fez no momento de tentar o Senhor Jesus no deserto (Mateus 4:6; Lucas 4:10), ele o faz, empregando a Palavra; por exemplo, Tiago 2:24: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente.” E Satanás acrescenta: “Vê como sua conduta deixa muito a desejar!
Onde estão as suas obras? Você tem fé, mas isso não é suficiente, pois a Palavra diz que não se é justificado somente pela fé.”
Apresentam-se também outras passagens cujo sentido é falsificado e que, por isso, mantêm a dúvida nessa alma angustiada. Assim Romanos 11:22: “Você também será cortado”, ou Filipenses 2:12: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor.” Também é utilizado Hebreus 6:46 para fazer crer que o redimido por Cristo pode muito bem perder sua salvação, e para tirar toda a esperança de restauração daqueles que caíram em pecado. Com efeito, esta passagem diz: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tomaram participantes do Espírito Santo, e ainda provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia (zombaria)”. A pessoa perturbada mantém-se assim em contínua inquietação com respeito a sua salvação, tendo sempre temor de que não realize obras suficientes para obtê-la ou para perdê-la.
Faremos duas observações: E perigoso isolar um texto bíblico de seu contexto e, por outro lado, a Revelação consistiu um todo. Sobre a Palavra, diz ela mesma: “Os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente justos.” (Salmos 19:9).
Esta expressão “igualmente” mostra-nos bem que o sentido de uma passagem deve ser buscada de acordo com as demais verdades conhecidas do livro Santo. Estes dois princípios devem guiar-nos sempre quando examinamos uma porção das Escrituras.
Justificados perante Deus pela fé
A propósito da justificação, eis que o Apóstolo Paulo escreve aos romanos: “Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Romanos 4:5), enquanto que o ensinamento de Apóstolo Tiago é este: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente” (Tiago 2:24). Isolados de seu contexto, estas duas passagens parecem contraditórias e esta aparente contradição é motivo de confusão para muitos.
É necessário compreender que nestas duas porções da Palavra tratam-se dois temas muito diferentes. Na epístola aos Romanos, trata-se da justificação perante Deus e na epístola de Tiago da justificação perante os homens. Deus lê no meu coração; Ele pode discernir a realidade de minha fé sem que para isso sejam necessárias as obras. Ao contrário, aqueles que me rodeiam somente podem me julgar através de minha vida prática: “Eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tiago 2:18).
Um mesmo exemplo – o de Abraão – foi escolhido nas duas passagens citadas, o que é notável. Romanos 4 alude à cena de Génesis 15: “Olha para os céus e conta as estrelas… Assim será a tua posteridade.” Isso é o que Deus disse.
É suficiente crer para ser justificado: “E creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.” Este versículo mencionado em Romanos 4:3 é citado igualmente em Tiago 2:23, mas precedido por estas palavras. “E se cumpriu a Escritura que diz…”. Quando foi cumprida esta Escritura? Quando Abraão ofereceu seu filho Isaque sobre o altar (v. 21). A cena de Génesis 15, durante a qual foi pronunciada a expressão cumprida em Génesis 22, é bastante anterior. Isaque não havia nascido ainda. A fé, pois, precede as obras, as quais são somente a consequência e o testemunho daquela perante o mundo. Em Génesis 22 havia testemunhas (“dois dos seus servos”) embora não tenham ido ao local do sacrifício.
Qual é o resultado em cada uma dessas circunstâncias? Génesis 15: Abraão creu em Deus. E isso lhe for “imputado para justiça”, é justificado perante Deus por sua fé. Não é questão de obras: “ao que não trabalha, porém crê…” (Romanos 4:5). Génesis 22: suas obras manifestam sua fé. Aqui não se diz que isso lhe foi lhe foi imputado como justiça; aqui são dirigidas duas mensagens diferentes: “Mas do céu lhe bradou o Anjo do Senhor…” (v. 11), “Então do céu bradou pela segunda vez o Anjo do Senhor a Abraão” (v. 15). Quais são essas duas mensagens? A primeira: “Agora sei que temes a Deus…” (v. 12). A segunda: “porquanto fizeste isso… deveras te abençoarei” (vs. 16L18).
Torna-se, pois, muito claro, que somos justificados perante Deus pela fé. As obras que somos exortados a fazer nada acrescentam a uma salvação perfeita, a qual está fundamentada sobre o principio da fé somente. Elas manifestam esta fé aos olhos dos que nos rodeiam e mostram que vivemos no temor de Deus. (Génesis 22:12; elas não nos levam á salvação, mas à bênção no caminho – cap. 22:16-18). Veja-se ainda, além dessas passagens, Efésios 2:8-10; Tito 3:5-8; Gálatas 2:16.
Acrescentemos o que nos diz em outra parte a epístola aos Romanos a respeito da justificação. É Deus quem justifica (8:30,33), Deus e não o homem. Por que o faz? Porque é um Deus de graça: “sendo justificados gratuitamente por sua graça (3:24). Mas, como um Deus justo e santo pode justificar culpados? Por causa da obra executada na cruz: o sangue de Cristo foi vertido e somos “justificados pelo Seu sangue (5:9). Basta crer isso – “justificados, pois pela fé” (5:1) – para ter paz com Deus.
Juntos com Cristo para sempre
O verdadeiro alcance de Romanos 11 perde-se de vista quando o aplicamos à salvação da alma. Outras passagens da Palavra (por exemplo, a epístola aos Efésios) nos ensinam que os redimidos por Cristo são vivificados e ressuscitados juntamente com Ele, que estão sentados com Ele nos lugares celestiais, que a Igreja é um só corpo com Ele. Como, pois, poderia ser rejeitado aquele que é”um” com Cristo no céu? Em Romanos 11, trata-se da terra e não do céu. A imagem escolhida pelo apóstolo – uma árvore – mostra isso muito bem. Esta oliveira não representa a Igreja, mas a nação judaica; a outra oliveira, a selvagem, as nações. Escreve o apóstolo: “Dirijo-me a vós outros, que sois gentios” (v. 13). O Evangelho foi anunciado às nações, mas se elas não perseveram no temor de Deus, serão cortadas (v. 22), da mesma maneira que foram os ramos da boa oliveira, isto é, Israel. Poderia haver no corpo de Cristo membros que fossem arrancados dele para dar lugar a outros? Há nesse corpo alguma diferença entre judeus e gentios? Não diz o apóstolo Pedro aos judeus, falando dos crentes dentre as nações: “não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles ? (Actos 15:9), e, não escreve o apóstolo Paulo aos Efésios: “Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos (os povos) fez um… para criar, em Si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um (só) corpo”? (2:14-16).
Não há, pois, nenhuma dúvida de que no capítulo 11 da epístola aos Romanos não se trata do Corpo de Cristo, mas dos judeus e das nações, responsáveis pelo testemunho de Deus na terra. Servir-se desta porção das Escrituras para afirmar que o crente que não anda fielmente pode perder sua salvação estaria em contradição com todo o restante dos ensinamentos da Palavra a esse respeito.
A Salvação da alma foi definitivamente alcançada
A explicação de Filipenses 2:12 também é dada frequentemente. Mas o apóstolo não tem em vista a justificação quando escreve: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e temor.”
Na epístola que envia aos filipenses, apresenta a salvação como a meta a alcançar: a libertação ao final da carreira. Como possuímos a salvação sobre o princípio da fé – não foi exactamente em Filipos onde ele respondeu à pergunta do carcereiro: “Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e tua casa”? (Actos 16:30-32) – somos exortados a trabalhar tendo em vista a libertação final. E um trabalho incessante, um combate contra Satanás que quer fazer-nos cair no caminho. Sem dúvida, se tivéssemos que nos defender nesse combate unicamente com nossas próprias forças e recursos, quem de nós poderia alcançar a meta? Mas “Deus é quem efectua em vós tanto o querer como realizar, segundo a Sua boa vontade” (Filipenses 2:13). Assim, podemos esperar com inteira confiança “a adopção, a redenção de nosso corpo” (Romanos 8:23-24). A salvação de nossas almas já foi alcançada; é a salvação de nossos corpos a que esperamos.
Uma fé viva e não uma simples profissão de fé
O primeiro versículo da epístola aos Hebreus mostra claramente que ela foi enviada a crentes judeus. Deus havia falado aos pais pelos profetas; quando “falou pelo Filho”, seu povo rejeitou-o e crucificou-o. Entretanto, fizeram-no por ignorância (Actos 3:17). Então é-lhes anunciado o Evangelho e pregado o arrependimento. Mas se, depois de ouvir, depois de adentrar a profissão de fé cristã, rejeitam a Cristo e voltam ao judaísmo, Deus não tem outro meio de salvação para oferecer-lhes. Isso é o que dirá o apóstolo Pedro depois de pronunciar as palavras que acabamos de mencionar (Actos 4:12). A passagem considerada de Hebreus 6:4-5 aplica-se, pois, a judeus que tiveram por algum tempo a aparência de profissão de fé cristã, mas sem ter realmente a vida de Deus. A “boa palavra de Deus” que ouviram, que apreciaram, iluminou-os; é o mesmo caso de muitos que apenas professam a fé (os que pretendem ser crentes e não o são) na actualidade. Chegaram a ser “participantes do Espírito Santo”. Observemos bem que aqui não é utilizada a expressão de Efésios 1:13? Tendo crido nele, fostes selados com o Espírito Santo.” Não se trata do selo do Espírito Santo, o qual Deus põe sobre seus filhos como uma marca de propriedade: é questão de pessoas que se encontraram no cristianismo, mas que jamais fizeram parte do único “corpo” (Efésios 1:23;4:4).
Nada nestes versículos, pois, permite dizer que um filho de Deus possa perder sua salvação e que é impossível que seja conduzido novamente ao arrependimento se caiu. Um crente que cai não perde sua salvação, mas o gozo de sua comunhão com o Senhor. São duas coisas muito diferentes (Levítico 21:21-23).
Conclusão
Sem dúvida, estamos em tempo de relaxamento. Em muitos sentidos, é útil considerar com atenção nossa responsabilidade. “Já é hora de vos despertardes do sono”(Romanos 13:11-14), e esta exortação dirige-se também a nós: “Lembra-te, pois de onde caíste, arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras” (Apocalipse 2:5).
Temos necessidade de considerar seriamente nossa caminhada individual e colectiva, respondendo ao convite que nos foi feito: “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor” (Lamentações de Jeremias 3:40). Talvez pudéssemos duvidar se realmente é salvo – somente Deus lê em nossos corações – aquele que disser: “Sou salvo, não importa se eu andar fielmente ou não!” Aquele que crê se transforma em alguém que ama, porque o amor de Deus é derramado em seu coração, e este amor é manifestado guardando Sua Palavra (João 14:21-23). Dessa forma, temos que mostrar nossa fé por obras.
Mas, se nossa salvação dependesse de nossos caminhos, quem ousaria pretender ser salvo? Querer despertar a consciência dos santos adormecidos, mostrando-lhes que sua salvação pode ser questionada, porque sua caminhada não é o que deveria ser, teria como único resultado pertubá-los em vez de despertá-los. Nossa vida está unida à de nosso amado Salvador: “Porque eu vivo, vós também vivereis” (João 14:19). De Suas ovelhas, às quais deu a vida eterna, Ele pode dizer: “jamais perecerão, e ninguém as arrebatará de minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”. (10:28-29). Esta salvação, que descansa sobre a obra perfeita de Cristo cumprida na cruz e que recebemos pela fé, não nos pode ser tirada. Esta certeza é nossa felicidade e nossa paz.
Que nenhum filho de Deus duvide de sua salvação. Esta descansa sobre o que Cristo fez e não sobre o que nós fazemos. Mas cada um deles manifeste sua fé por meio de suas obras, para ouvir esta promessa: “Agora sei que temes a Deus… deveras te abençoarei” (Génesis 22:12,17). Poderá gozar então de uma comunhão feliz com o Pai e com o Filho: “Viremos para ele e faremos nele morada.” (João 14:23). Também sentirá toda a felicidade que resulta da obediência: “Se guardardes meus mandamentos, permanecereis no meu amor… Tenho vos dito estas cousas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo” (João 15:10, 11).
Onde estão as suas obras? Você tem fé, mas isso não é suficiente, pois a Palavra diz que não se é justificado somente pela fé.”
Apresentam-se também outras passagens cujo sentido é falsificado e que, por isso, mantêm a dúvida nessa alma angustiada. Assim Romanos 11:22: “Você também será cortado”, ou Filipenses 2:12: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor.” Também é utilizado Hebreus 6:46 para fazer crer que o redimido por Cristo pode muito bem perder sua salvação, e para tirar toda a esperança de restauração daqueles que caíram em pecado. Com efeito, esta passagem diz: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tomaram participantes do Espírito Santo, e ainda provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia (zombaria)”. A pessoa perturbada mantém-se assim em contínua inquietação com respeito a sua salvação, tendo sempre temor de que não realize obras suficientes para obtê-la ou para perdê-la.
Faremos duas observações: E perigoso isolar um texto bíblico de seu contexto e, por outro lado, a Revelação consistiu um todo. Sobre a Palavra, diz ela mesma: “Os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente justos.” (Salmos 19:9).
Esta expressão “igualmente” mostra-nos bem que o sentido de uma passagem deve ser buscada de acordo com as demais verdades conhecidas do livro Santo. Estes dois princípios devem guiar-nos sempre quando examinamos uma porção das Escrituras.
Justificados perante Deus pela fé
A propósito da justificação, eis que o Apóstolo Paulo escreve aos romanos: “Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Romanos 4:5), enquanto que o ensinamento de Apóstolo Tiago é este: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente” (Tiago 2:24). Isolados de seu contexto, estas duas passagens parecem contraditórias e esta aparente contradição é motivo de confusão para muitos.
É necessário compreender que nestas duas porções da Palavra tratam-se dois temas muito diferentes. Na epístola aos Romanos, trata-se da justificação perante Deus e na epístola de Tiago da justificação perante os homens. Deus lê no meu coração; Ele pode discernir a realidade de minha fé sem que para isso sejam necessárias as obras. Ao contrário, aqueles que me rodeiam somente podem me julgar através de minha vida prática: “Eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tiago 2:18).
Um mesmo exemplo – o de Abraão – foi escolhido nas duas passagens citadas, o que é notável. Romanos 4 alude à cena de Génesis 15: “Olha para os céus e conta as estrelas… Assim será a tua posteridade.” Isso é o que Deus disse.
É suficiente crer para ser justificado: “E creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.” Este versículo mencionado em Romanos 4:3 é citado igualmente em Tiago 2:23, mas precedido por estas palavras. “E se cumpriu a Escritura que diz…”. Quando foi cumprida esta Escritura? Quando Abraão ofereceu seu filho Isaque sobre o altar (v. 21). A cena de Génesis 15, durante a qual foi pronunciada a expressão cumprida em Génesis 22, é bastante anterior. Isaque não havia nascido ainda. A fé, pois, precede as obras, as quais são somente a consequência e o testemunho daquela perante o mundo. Em Génesis 22 havia testemunhas (“dois dos seus servos”) embora não tenham ido ao local do sacrifício.
Qual é o resultado em cada uma dessas circunstâncias? Génesis 15: Abraão creu em Deus. E isso lhe for “imputado para justiça”, é justificado perante Deus por sua fé. Não é questão de obras: “ao que não trabalha, porém crê…” (Romanos 4:5). Génesis 22: suas obras manifestam sua fé. Aqui não se diz que isso lhe foi lhe foi imputado como justiça; aqui são dirigidas duas mensagens diferentes: “Mas do céu lhe bradou o Anjo do Senhor…” (v. 11), “Então do céu bradou pela segunda vez o Anjo do Senhor a Abraão” (v. 15). Quais são essas duas mensagens? A primeira: “Agora sei que temes a Deus…” (v. 12). A segunda: “porquanto fizeste isso… deveras te abençoarei” (vs. 16L18).
Torna-se, pois, muito claro, que somos justificados perante Deus pela fé. As obras que somos exortados a fazer nada acrescentam a uma salvação perfeita, a qual está fundamentada sobre o principio da fé somente. Elas manifestam esta fé aos olhos dos que nos rodeiam e mostram que vivemos no temor de Deus. (Génesis 22:12; elas não nos levam á salvação, mas à bênção no caminho – cap. 22:16-18). Veja-se ainda, além dessas passagens, Efésios 2:8-10; Tito 3:5-8; Gálatas 2:16.
Acrescentemos o que nos diz em outra parte a epístola aos Romanos a respeito da justificação. É Deus quem justifica (8:30,33), Deus e não o homem. Por que o faz? Porque é um Deus de graça: “sendo justificados gratuitamente por sua graça (3:24). Mas, como um Deus justo e santo pode justificar culpados? Por causa da obra executada na cruz: o sangue de Cristo foi vertido e somos “justificados pelo Seu sangue (5:9). Basta crer isso – “justificados, pois pela fé” (5:1) – para ter paz com Deus.
Juntos com Cristo para sempre
O verdadeiro alcance de Romanos 11 perde-se de vista quando o aplicamos à salvação da alma. Outras passagens da Palavra (por exemplo, a epístola aos Efésios) nos ensinam que os redimidos por Cristo são vivificados e ressuscitados juntamente com Ele, que estão sentados com Ele nos lugares celestiais, que a Igreja é um só corpo com Ele. Como, pois, poderia ser rejeitado aquele que é”um” com Cristo no céu? Em Romanos 11, trata-se da terra e não do céu. A imagem escolhida pelo apóstolo – uma árvore – mostra isso muito bem. Esta oliveira não representa a Igreja, mas a nação judaica; a outra oliveira, a selvagem, as nações. Escreve o apóstolo: “Dirijo-me a vós outros, que sois gentios” (v. 13). O Evangelho foi anunciado às nações, mas se elas não perseveram no temor de Deus, serão cortadas (v. 22), da mesma maneira que foram os ramos da boa oliveira, isto é, Israel. Poderia haver no corpo de Cristo membros que fossem arrancados dele para dar lugar a outros? Há nesse corpo alguma diferença entre judeus e gentios? Não diz o apóstolo Pedro aos judeus, falando dos crentes dentre as nações: “não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles ? (Actos 15:9), e, não escreve o apóstolo Paulo aos Efésios: “Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos (os povos) fez um… para criar, em Si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um (só) corpo”? (2:14-16).
Não há, pois, nenhuma dúvida de que no capítulo 11 da epístola aos Romanos não se trata do Corpo de Cristo, mas dos judeus e das nações, responsáveis pelo testemunho de Deus na terra. Servir-se desta porção das Escrituras para afirmar que o crente que não anda fielmente pode perder sua salvação estaria em contradição com todo o restante dos ensinamentos da Palavra a esse respeito.
A Salvação da alma foi definitivamente alcançada
A explicação de Filipenses 2:12 também é dada frequentemente. Mas o apóstolo não tem em vista a justificação quando escreve: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e temor.”
Na epístola que envia aos filipenses, apresenta a salvação como a meta a alcançar: a libertação ao final da carreira. Como possuímos a salvação sobre o princípio da fé – não foi exactamente em Filipos onde ele respondeu à pergunta do carcereiro: “Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e tua casa”? (Actos 16:30-32) – somos exortados a trabalhar tendo em vista a libertação final. E um trabalho incessante, um combate contra Satanás que quer fazer-nos cair no caminho. Sem dúvida, se tivéssemos que nos defender nesse combate unicamente com nossas próprias forças e recursos, quem de nós poderia alcançar a meta? Mas “Deus é quem efectua em vós tanto o querer como realizar, segundo a Sua boa vontade” (Filipenses 2:13). Assim, podemos esperar com inteira confiança “a adopção, a redenção de nosso corpo” (Romanos 8:23-24). A salvação de nossas almas já foi alcançada; é a salvação de nossos corpos a que esperamos.
Uma fé viva e não uma simples profissão de fé
O primeiro versículo da epístola aos Hebreus mostra claramente que ela foi enviada a crentes judeus. Deus havia falado aos pais pelos profetas; quando “falou pelo Filho”, seu povo rejeitou-o e crucificou-o. Entretanto, fizeram-no por ignorância (Actos 3:17). Então é-lhes anunciado o Evangelho e pregado o arrependimento. Mas se, depois de ouvir, depois de adentrar a profissão de fé cristã, rejeitam a Cristo e voltam ao judaísmo, Deus não tem outro meio de salvação para oferecer-lhes. Isso é o que dirá o apóstolo Pedro depois de pronunciar as palavras que acabamos de mencionar (Actos 4:12). A passagem considerada de Hebreus 6:4-5 aplica-se, pois, a judeus que tiveram por algum tempo a aparência de profissão de fé cristã, mas sem ter realmente a vida de Deus. A “boa palavra de Deus” que ouviram, que apreciaram, iluminou-os; é o mesmo caso de muitos que apenas professam a fé (os que pretendem ser crentes e não o são) na actualidade. Chegaram a ser “participantes do Espírito Santo”. Observemos bem que aqui não é utilizada a expressão de Efésios 1:13? Tendo crido nele, fostes selados com o Espírito Santo.” Não se trata do selo do Espírito Santo, o qual Deus põe sobre seus filhos como uma marca de propriedade: é questão de pessoas que se encontraram no cristianismo, mas que jamais fizeram parte do único “corpo” (Efésios 1:23;4:4).
Nada nestes versículos, pois, permite dizer que um filho de Deus possa perder sua salvação e que é impossível que seja conduzido novamente ao arrependimento se caiu. Um crente que cai não perde sua salvação, mas o gozo de sua comunhão com o Senhor. São duas coisas muito diferentes (Levítico 21:21-23).
Conclusão
Sem dúvida, estamos em tempo de relaxamento. Em muitos sentidos, é útil considerar com atenção nossa responsabilidade. “Já é hora de vos despertardes do sono”(Romanos 13:11-14), e esta exortação dirige-se também a nós: “Lembra-te, pois de onde caíste, arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras” (Apocalipse 2:5).
Temos necessidade de considerar seriamente nossa caminhada individual e colectiva, respondendo ao convite que nos foi feito: “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor” (Lamentações de Jeremias 3:40). Talvez pudéssemos duvidar se realmente é salvo – somente Deus lê em nossos corações – aquele que disser: “Sou salvo, não importa se eu andar fielmente ou não!” Aquele que crê se transforma em alguém que ama, porque o amor de Deus é derramado em seu coração, e este amor é manifestado guardando Sua Palavra (João 14:21-23). Dessa forma, temos que mostrar nossa fé por obras.
Mas, se nossa salvação dependesse de nossos caminhos, quem ousaria pretender ser salvo? Querer despertar a consciência dos santos adormecidos, mostrando-lhes que sua salvação pode ser questionada, porque sua caminhada não é o que deveria ser, teria como único resultado pertubá-los em vez de despertá-los. Nossa vida está unida à de nosso amado Salvador: “Porque eu vivo, vós também vivereis” (João 14:19). De Suas ovelhas, às quais deu a vida eterna, Ele pode dizer: “jamais perecerão, e ninguém as arrebatará de minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”. (10:28-29). Esta salvação, que descansa sobre a obra perfeita de Cristo cumprida na cruz e que recebemos pela fé, não nos pode ser tirada. Esta certeza é nossa felicidade e nossa paz.
Que nenhum filho de Deus duvide de sua salvação. Esta descansa sobre o que Cristo fez e não sobre o que nós fazemos. Mas cada um deles manifeste sua fé por meio de suas obras, para ouvir esta promessa: “Agora sei que temes a Deus… deveras te abençoarei” (Génesis 22:12,17). Poderá gozar então de uma comunhão feliz com o Pai e com o Filho: “Viremos para ele e faremos nele morada.” (João 14:23). Também sentirá toda a felicidade que resulta da obediência: “Se guardardes meus mandamentos, permanecereis no meu amor… Tenho vos dito estas cousas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo” (João 15:10, 11).
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