domingo, 2 de setembro de 2012

732 A BATALHA DE TOURS


732

A Batalha de Tours

Se não fosse por Carlos Martelo, todos nós poderíamos estar falando árabe e nos ajoelhando na direção de Meca cinco vezes ao dia. Na região de Tours, Carlos Martelo e seu exército franco reverteram o imenso poderio dos exércitos islâmicos que varriam o norte da África e já invadiam a Europa. A Batalha de Tours foi importantíssima para a civilização ocidental.
A ascensão do islã é um dos mais incríveis movimentos da história. Em 622, os seguidores de Maomé [seu nome completo é Abulqasin Muhamed ibn Abn al-Muttalib ibn Ha-shin] eram apenas um bando de visionários perseguidos que se reuniam em Meca. Cem de anos depois, eles controlavam não apenas a Arábia, mas todo o norte da África, a Palestina, a Pérsia, a Espanha, partes da índia e ameaçavam a França e Constantinopla.
Como conseguiram isso? Conversão, diplomacia e uma força-tarefa altamente dedicada. Ε preciso dizer também que o decadente Império Romano deixou o território pronto para a colheita.
A religião de Maomé se desenvolveu em Meca, uma das duas maiores cidades árabes. Essa religião era fortemente monoteísta e legalista, mas bastante simples. Maomé afirmava ter recebido seu sistema diretamente de Deus (Alá) e dizia que Alá o designara para ser seu profeta. Os cidadãos de Meca se opunham aos novos ensinamentos de Maomé e tornaram a vida de seus seguidores bastante difícil. Desse modo, em 622, o profeta reuniu seu grupo e todos partiram para Medina (a outra grande cidade da Arábia). Essa viagem (denominada de hégira) marca o início do calendário muçulmano e o começo de sua incrível expansão.
Naquela época, a Arábia era um conjunto bastante diversificado de tribos nômades que guerreavam sempre umas contra as outras. O islã trouxe união, não apenas na religião, mas também na lei, na economia e na política. Quando Maomé morreu (632), houve diversas lutas internas entre seus possíveis sucessores. Mesmo assim, a fé se expandiu.
Em 636, os muçulmanos controlavam a Síria e a Palestina. Eles tomaram Alexandria em 642 e a Mesopotamia em 646. Cartago caiu em 697, e os muçulmanos varreram o norte da África, ganhando territórios que permanecem em mãos muçulmanas até o dia de hoje. Em 711, cruzaram o estreito de Gibraltar e entraram na Espanha. Solidificaram rapidamente o controle da península Ibérica e atravessaram os Pireneus. Nesse meio tempo, os muçulmanos entraram na área do Punjabe, na India, e batiam às portas de Constantinopla.

Constantinopla era a capital do Império Bizantino, tudo que restou do outrora imponente Império Romano. Séculos antes, o Império Romano fora dividido entre o Oriente e Ocidente, e o Império do Ocidente caiu rapidamente diante das várias tribos germânicas — vândalos, ostrogodos e francos. O único poder que Roma possuía agora estava na igreja, e esse poder crescia. Por meio de missionários, como Agostinho na Inglaterra e Bonifácio na Alemanha, Roma ganhava a fidelidade espiritual em seus antigos territórios políticos.
A ameaça muçulmana combinava religião e poder político. O islã não apenas derrotou as autoridades políticas, mas conseguiu que as pessoas se convertessem e ofereceu a elas (ou forçou-as a receber) um novo sistema religioso.
Carlos Martelo era o líder dos francos, uma das tribos germânicas que atacaram o Império Ocidental. Os francos já tinham invadido a Gália em 355 e se converteram oficialmente ao cristianismo romano no reinado de Clóvis I (481 -511). Como os governadores francos anteriores, Carlos procurou usar a igreja para em seu benefício. Ele estava bastante feliz em apoiar os missionários romanos entre as outras tribos germânicas, pois isso poderia fazer avançar o poder franco na Alemanha. Contudo, também foi rápido em corromper a igreja franca para que pudesse se beneficiar dela. Embora possa ter salvo a igreja romana da ruína em Tours, ele sem dúvida lutou para proteger o território dos francos.
O general muçulmano Abd-ar-Rahman liderou suas tropas rumo ao norte, bem no meio do território franco. Carlos Martelo se encontrou com elas entre Tours e Poitiers e fez com que recuassem. Em uma série de acirradas batalhas, os francos empurraram os muçulmanos de volta para a Espanha, contendo seu avanço na Europa.
Ε certo que a bem-sucedida defesa de Constantinopla em 718 foi igualmente importante na contenção do avanço islâmico. Porém, para aqueles que têm sua origem na Europa Ocidental, a Batalha de Tours foi crucial. Se os muçulmanos fossem vitoriosos, poderiam ter caído mais tarde, pois conquistariam mais territórios do que seriam capazes. Quase tão incrível quanto sua rápida expansão, porém, é a maneira como os muçulmanos dominaram o território que haviam subjugado. Mesmo depois de mais de 1 200 anos, eles se mantêm como força poderosa no mundo, e os territórios que controlam permanecem resistentes ao testemunho cristão.

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